Cavaco tem razão

O que fizeram os partidos, senão convidar os euromanos para nos comandar?

Cavaco Silva diz que o cidadão já não confia nos políticos e nas instituições. Foi o que eu disse no Prós e Contras em Março de 2010. Em parte da UE há este descrédito; a promiscuidade entre os poderes fez o egoísmo institucional afastá-los do cidadão. O contínuo arquivamento de processos contra políticos, reclamos contra os abusos nas telecomunicações, transportes, energias e não só, que não são respondidos nem travados pelas agências que deveriam controlá-los, sistemáticas fraudes nalgumas autarquias, evasão fiscal dos grandes para os paraísos fiscais, tudo isto leva ao descrédito.

O cidadão já não acredita neste sistema. Prova é a abstenção, o voto de protesto nos nanopartidos, a aparição dos novos que querem mudar e a expansão de grupos extremistas. A violência é a mais clara prova de protesto.

O renomado Mark Blyth disse na Gulbenkian não haver conspiração por trás dos jogos financeiros que levarão o euro e a UE ao caos. Ele disse ser a estupidez dos dirigentes. Mas penso haver nos gabinetes de Nova Iorque, Londres, Paris, Frankfurt e não só, espertos banqueiros a financiar as campanhas eleitorais de políticos narcisistas, eleitos por minorias – autarcas com 20% dos eleitores. E a financiar com publicidade parte da imprensa, para que ela não diga toda a verdade e não divulgue os dados que Blyth nos mostrou. Por que é que escondem as alternativas ao nosso sistema, na Argentina e Suécia, onde há satisfação do povo, emprego e confiança nas instituições?

Com euromilhões, playstation, luxo, telenovelas, auto-estradas que nem a Escandinávia tem, e gadgets inúteis, o sistema comprou-nos a liberdade e a vontade de irmos à rua mudar o que é retrógrado. Os que ganham com o euro e a UE continuam a ser os amigos da corte, como a Tecnoforma. Daí a nossa baixa competitividade. Os melhores emigram, como na altura da outra senhora, já são 120 mil ao ano.

Há 2000 anos os romanos disseram que não nos governamos, nem nos deixamos governar. Mas o que fizeram os partidos, senão convidar os euromanos para nos comandar? Senhor Presidente, o senhor pode mais do que refilar! Yes, you can!

Consultor Internacional, autor dos livros Como Sair da Crise e do bilingue Portugal Pós-Troika
 

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