Num momento em que um IndieLisboa, um Doclisboa ou um Curtas Vila do Conde se ressentem da crise e “reduzem” as suas dimensões (em número de sessões ou de secções, mesmo que não em ambição), o Lisbon & Estoril Film Festival (Leffest), este ano em oitava edição, volta a meter “prego a fundo”, com uma programação literalmente gargantuesca concentrada nas salas dos cinemas Monumental e Nimas e nos auditórios do Casino Estoril e do Centro de Congressos do Estoril.

A oitava edição do Leffest ancora-se quase inteiramente em antestreias de filmes já adquiridos para distribuição em Portugal e em retrospectivas e ciclos temáticos. No total de 34 filmes na selecção principal, todas as 21 longas exibidas fora de competição irão chegar às salas nos próximos meses, da abertura com a biografia não oficial de Yves Saint-Laurent por Bertrand Bonello, Saint-Laurent (sexta-feira, 20h, com a presença do realizador), ao encerramento com o muito aclamado novo filme do canadiano Xavier Dolan, Mamã.

A competição oficial, até aqui virada para novos talentos do cinema de autor, inflecte este ano para cineastas com “nome feito” – a excepção é o estreante indiano Aditya Vikram Sengupta com Labour of Love. Dos 13 filmes a concurso, seis têm já estreia garantida em Portugal: O Pequeno Quinquin de Bruno Dumont (Camille Claudel 1915), Amor Louco de Jessica Hausner (Lourdes), Pela Rainha de John Boorman (o autor de Fim-de-Semana Alucinante e À Queima-Roupa), o documentário Eau Argentée – Syrie auto-portrait, nascido a partir da correspondência online do cineasta sírio exilado Ossama Mohammed e da resistente curda Wiam Simav Bedirxan, Hermosa Juventud de Jaime Rosales (A Solidão) e Phoenix de Christian Petzold (Barbara).

O concurso oficial completa-se com Angels of Revolution do russo Alexei Fedorchenko, Jauja do argentino Lisandro Alonso (com Viggo Mortensen no papel principal), Labour of Love, Dos Disparos do argentino Martín Rejtman, Hill of Freedom do coreano Hong Sang-soo (Noutro País), The Kindergarten Teacher do israelita Nadav Lapid (O Polícia) e Heaven Knows What dos irmãos Safdie (Vão-me Buscar Alecrim).

À cabeça das retrospectivas estão os trabalhos para televisão de Roberto Rossellini (antecedendo uma operação de reexibição das suas longas-metragens a decorrer em 2015 nas salas de Paulo Branco), uma curta visão do trabalho do cineasta francês Philippe Garrel, e o ciclo Ficção e Realidade: Para Além do Big Brother. Articulando-se em paralelo com um simpósio a decorrer nos dias 14, 15 e 16 que contará com uma alocução (ao que tudo indica, pré-gravada) de Julian Assange, este ciclo propõe uma escolha de filmes que exploram as ideias de voyeurismo, totalitarismo e vigilância – do Vigilante de Coppola ao Truman Show de Peter Weir, do Videodrome de Cronenberg aos Três Dias do Condor de Sydney Pollack, terminando com a estreia europeia do documentário de Laura Poitras sobre Edward Snowden, Citizenfour.

O Leffest realiza ainda uma vasta retrospectiva da carreira do polaco Andrzej Zulawski (autor de O Importante É Amar e A Mulher Pública), com a presença do realizador; e olhares para as obras do brasileiro Kleber Mendonça Filho (O Som ao Redor), do georgiano Marlen Khutsiev, do espanhol Gonzalo García-Pelayo e do argelino Tariq Teguia.

Durante o festival, o Centro de Congressos do Estoril acolhe uma exposição de litografias de David Lynch e Jean-Michel Alberola, Here & Now; e a muito falada série de fotos de Sandro Miller onde John Malkovich reproduz clichés célebres, Malkovich, Malkovich, Malkovich, estará patente no Casino Estoril. Malkovich é, aliás, a par da actriz Maria de Medeiros, um dos homenageados do festival, com a antestreia de Variações de Casanova, produção de Paulo Branco dirigida por Michael Sturminger, em que o actor interpreta o célebre conquistador italiano.

O calendário exacto de sessões, bem como a programação completa podem ser consultados no site oficial em www.leffest.com .