Bruxelas corta no crescimento da zona euro e garante que não é culpa da austeridade

Alemanha, França e Itália registam maiores revisões em baixa do crescimento.

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A Alemanha de Angela Merkel vai crescer 1,1% em 2015 John MacDougall/AFP

Em apenas seis meses muita coisa mudou na zona euro. Os periféricos começaram a crescer, mas as grandes potências deram sinais de fraqueza. No total, as expectativas de que teremos uma retoma forte da economia europeia são agora mais reduzidas do que nunca.

Nas previsões de Outono publicadas esta terça-feira, a Comissão Europeia corrigiu de forma dramática as previsões de crescimento para a zona euro que tinha apresentado no passado mês de Maio. Para 2015, está agora a prever uma variação do PIB de 1,1%, quando há seis meses apontava para 1,7%.

A economia da zona euro, que deverá crescer 0,8% este ano revela assim dificuldades para arrancar para taxas de crescimento mais saudáveis, ficando ainda mais distante dos Estados Unidos que deverão crescer a uma taxa superior a 3%.

As principais revisões em baixa das previsões aconteceram em relação às maiores potências económicas da zona euro. Em Maio, a Comissão projectava um crescimento de 2% para a Alemanha, mas agora não vai além dos 1,1%. Em França, a previsão passou de 1,5% para 0,7%. A Itália, em vez de crescer 1,2%, ficará apenas pelos 0,6% em 2015.

Os resultados dos três grandes da zona euro são suficientes para provocar só por si a deterioração de expectativas que se sente na totalidade da zona euro.

Numa tentativa de encontrar as causas para este retrocesso na retoma, os responsáveis máximos da Comissão Europeia não deram sinais de estarem dispostos a assumir erros na estratégia económica definida nos últimos anos. O novo comissário para os Assuntos Económicos, Pierre Moscovici recusou a ideia de que a revisão em baixa do crescimento tenha sido provocada pela política de austeridade e pela insistência em reduzir nesta fase os défice públicos. Moscovici deu pelo contrário os exemplos de países sujeitos a programas da troika para os quais se prevêem taxas de crescimento mais altas em 2015 e 2016 como argumento para defender uma política de consolidação orçamental.

Grécia e Irlanda deverão crescer em 2015 e 2016 a taxas próximas dos 3%. É preciso não esquecer, contudo, que estão a partir de bases muito mais baixas (em particular a Grécia) já que em anos anteriores tinham registado contracções muito fortes das suas economias.

“A consolidação orçamental é uma necessidade”, afirmou Pierre Moscovici, insistindo na necessidade de realizar reformas estruturais para garantir taxas de crescimento mais altas.

Ainda assim, a Comissão Europeia, no relatório publicado esta terça-feira, afirma que para os países que tenham margem de manobra orçamental poderá fazer sentido deixar os défice derraparem um pouco, nomeadamente com o objectivo de aumentar o investimento. O alvo desta recomendação, apesar de não ser nomeado, é claramente a Alemanha, que se prepara para registar um excedente orçamental de 0,2%. Berlim não tem dado contudo sinais de querer adoptar uma mudança de estratégia económica. Em Itália e França, a margem orçamental parece não existir, já que os dois países foram forçados a rever as suas propostas de orçamento incluindo novas medidas de austeridade.

Muito do esforço de estímulo económico de curto prazo fica assim entregue ao Banco Central Europeu, que tem nestas previsões mais um sinal de alerta para actuar. Não só a economia não arranca, como a previsão para a inflação fica sempre distante da meta de 2% do BCE pelo menos até 2016.

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