O sucesso de um mercado portuense com muita história

Há pouco mais de um ano, o Porto viu renascer um espaço conhecido entre a população: o Mercado do Bom Sucesso. Após a requalificação, o Mercado surge com um conceito diferente que tem ganho adesão entre os portuenses

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Regina Coelho

Se antigamente as pessoas se deslocavam ao Mercado para ter acesso aos produtos frescos do dia-a-dia, desde Junho do ano passado que o espaço oferece muito mais do que o mercado tradicional. Quem entra no amplo espaço depara-se com uma variedade infindável de escolhas. Desde os doces aos salgados, passando pela gastronomia portuguesa ou pelo vinho, as 44 bancas do Bom Sucesso acolhem de tudo um pouco. A ideia é a de experimentação e são algumas as dezenas que vão petiscando aqui e ali com curiosidade pelos sabores portugueses ou estrangeiros.

Helder Pinto trabalha em O Leitão do Zé desde que o Bom Sucesso reabriu e oferece aos clientes a possibilidade de provar o famoso leitão da Bairrada. Na opinião do comerciante, o Mercado veio “dar muita vida a esta zona do Porto”, uma vez que o comércio começava a desaparecer na zona da Boavista. O conceito é “fantástico”, uma vez que divulga produtos do Porto e não só. “Para quem é português é bom, mas também para os estrangeiros que ficam a conhecer”, indica. Para Helder Pinto, o mercado está disponível para todos, quer em termos dos preços praticados, quem em termos de espaço. “Na altura punha-se o problema que iria ser um espaço para um nível médio-alto, mas eu não concordo. Acho que é sem dúvida para qualquer pessoa”, aponta.

Por seu lado, Maria Pedroto, cliente do Bom Sucesso, discorda do comerciante. Ainda que seja da opinião que o conceito do mercado seja “muito engraçado” e uma boa forma para atrair turistas, a portuense acredita que o espaço acaba por chamar pessoas mais jovens e não ter um público abrangente a nível económico, “quer pelo preço das roupas nas lojas, quer pelo preço da alimentação”.

Também Inês Fevereiro, comerciante em A Banca da Sardinha afirma que “o Mercado tem um público mais restrito”, ainda que se vá vendo “um pouco de tudo”. A comerciante admite que a ideia de criar um espaço com múltiplos produtos tem trazido muita gente e, por isso, tem sentido o “desenvolvimento e crescimento económico”.

A par de alguns grupos sentados a conversar, outros vão estando atentos aos preços dos produtos e são alguns que vão petiscando. Aurora é cliente do Bom Sucesso, mas não aprecia muito os petiscos. “Não é coisa que me seduza, prefiro apenas a confeitaria”, explica. Vem com frequência ao Mercado fazer as compras de peixe e legumes e aprecia também as atividades culturais realizadas no espaço. “No sábado venho ao Halloween com as crianças, vai ser engraçado”, diz Aurora.

Não é só da gastronomia, do comércio e da restauração que se faz o Bom Sucesso. Após a requalificação, a administração decidiu adicionar ao Mercado uma nova componente: a Cultura. Assim, o espaço possui uma agenda mensal que oferece aos clientes atividades variadas para todas as idades. E no meio de tudo isto, onde fica a tradição?

Embora o Mercado do Bom Sucesso tenha sofrido uma notória transformação, a zona tradicional ainda se mantém. A aparência não é a de 1952, data em que o mercado de frescos foi inaugurado, mas ainda se misturam os mesmos cheiros, sabores e cores. O ambiente é mais calmo do que nas bancas, mas são muitas as pessoas que procuram os produtos frescos na frutaria, na peixaria, no talho ou na florista. Antigamente, Eduarda era cliente habitual: todos os dias se deslocava ao Bom Sucesso para fazer as suas compras. Hoje em dia já não vem tanto, mas continua a eleger o espaço para comprar a fruta, os legumes, o peixe e a carne para casa. Eduarda é da opinião que o Mercado está interessante, mas não tem muita curiosidade em experimentar os novos produtos. “As coisas são um pouco caras”, justifica.

De um modo geral, os portuenses estão satisfeitos com o novo Mercado. Veio trazer mais movimento, inovação e turismo. No entanto, para alguns o conceito deveria ser aplicado noutro local. Ana Catarina trabalha no talho e afirma que o facto de o local estar “mais escondido” tem prejudicado o negócio. “Se os frescos estivessem mais em cima era melhor. Perdemos bastante clientela, não temos porta nenhuma virada para a rua, não há acessos directos”, explica Ana. Para além disso, a comerciante afirma que o cliente que frequenta a parte dos produtos frescos não é o das bancas e que, por vezes, “tem vergonha de passar na parte da frente”.

Para além da zona das bancas, da restauração e dos frescos, o Mercado do Bom Sucesso inaugurou em Junho de 2013 com alguns serviços e zona de escritórios. Pedro Ancede, diretor da Mercado Urbano explica que a ideia foi “adaptar aquilo que era um mercado tradicional, adaptado agora às necessidades do consumidor actual, adaptado ao século onde estamos”. Ainda que afirme que o Bom Sucesso está “canalizado para um segmento médio-alto, alto”, a variedade de oferta acaba por conquistar um pouco de todos os segmentos. De acordo com o Pedro Ancede, o Bom Sucesso recebe em média por semana cerca de 8 000 pessoas. “Temos segmentos que vêm aqui à hora do almoço, clientes claramente conquistados e fidelizados, temos clientes que vêm aqui à parte da tarde ou lanche que são pessoas talvez um bocadinho mais velhas”, expõe. A existência de uma agenda cultural “construída com muito cuidado todos os meses” acaba por ser também uma mais-valia, bem como a existência do Hotel da Música. “O volume de facturação que existe no Mercado tem uma linha ascendente”, afirma o diretor da Mercado Urbano.

No passado mês de Outubro, o projeto de requalificação do Mercado do Bom Sucesso foi um dos quatro vencedores europeus distinguidos pelo Global Awards for Excellence do Urban Land Institut, de Nova Iorque. Rosário Rodrigues de Almeida, uma das arquitectas responsáveis pelo projecto explica que o processo de avaliação foi complexo e que uma das valências avaliadas foi o facto de o projecto ser “um exemplo a seguir no resto do mundo. “É fantástico. Deu-nos uma satisfação muito grande por ser Portugal e o Porto, nomeadamente, a dar um exemplo de inspiração ao mundo”, destaca a arquitecta. Também Nelson Almeida, outro dos arquitectos responsáveis, aponta que o projeto combina três componentes importantes: trabalhar, viver e entretenimento. “Este projecto veio introduzir e revitalizar a zona envolvente, introduzir uma vida económica que estava a começar a decair e veio dar vida”, explica Nelson Almeida.  
 

   

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