Como se previa a diplomacia falhou e os separatistas do Leste da Ucrânia fazem eleições

Paris, Berlim e Kiev, que consideram as eleições no Leste da Icrânia "ilegítimas", apelaram a Putin. Mas há opiniões "divergentes" e Donetsk e Lugansk elegem deputados e presidentes.

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Só Vladimir Putin reconhece as eleições dos separatistas do Leste da Ucrânia AFP

Foi um último esforço diplomático, mas o resultado foi estéril, como se previa. Esta sexta-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente francês, François Hollande, falaram em simultâneo com o líder do Kremlin para lhe pedirem que não reconheça as eleições gerais que os separatistas do Leste da Ucrânia marcaram para domingo.

A conclusão da conversa, em que participou também o Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, foi que há opiniões "divergentes" sobre as "chamadas eleições", disse numa conferência de imprensa o porta-voz de Merkel, Georg Streiter. "Merkel e Hollande sublinharam que só pode haver um boletim de voto, de acordo com a lei ucraniana" — sendo que esse boletim de voto já foi preenchido, no domingo passado, quando se realizaram eleições legislativas na Ucrânia, ganhas pelos partidos pró-Ocidente.

Por isso, disse Streiter, "estas eleições são ilegítimas" e não serão reconhecidas, sendo que só complicam o conflito no Leste. A guerra já matou mais de 3700 pessoas e ainda há frentes activas, apesar do cessar-fogo acordado a 5 de Setembro, um passo que se destinava a abrir um processo de paz e que foi patrocinado pela Rússia e pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

As eleições separatistas são reconhecidas por Putin e por todo o aparelho de Moscovo. Domingo, os separatistas — que já tinham realizado um referendo sobre a indpendência, também só reconhecido por Moscovo — oficializam a ruptura com Kiev, ao elegerem deputados e presidentes para as auto-proclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk.

"As eleições vão permitir a constituição de um governo legitimo", disse o "primeiro-ministro" de Donetsk, Alexandre Zakhartchenko, que será reconduzido. O mesmo acontecerá a Igor Plotnitski, "presidente" de Lugansk.

As duas regiões rebeldes de Donbass, a bacia mineira do Leste da Ucrânia, proclamaram unilateralmente a independência em Abril, o que fez eclodir o conflito armado com as forças governamentais ucranianas, que acusam o Governo russo de estar a apoiar os separatistas.

"Estas eleições são indispensáveis para dar legitimidade aos regimes políticos" de Donetsk e de Lugansk, disse à AFP o analista Konstantin Kalatchev. Para as republicas separatistas "é um novo ponto de partida, uma via para o reconhecimento, mesmo que não se saiba quem irá fazer esse reconhecimento", disse o analista.

A campanha eleitoral foi muito reduzida em Donetsk — apenas alguns cartazes de Zakhartchenko nas ruas — e nula noutras cidades. Todos os candidatos defendem o mesmo: a independência em relação à Ucrânia e a aproximação à Rússia.

Não se sabe ao certo quantos são os eleitores. Antes da guerra, pela região estavam inscritos nos cadernos eleitorais ucranianos cerca de cinco milhões de eleitores, mas muitos fugiram quando os combates começaram. Para colmatar este problema, as autoridades separatistas criaram mecanismos: é possível votar pela Internet (esta sexta-feira já tinham votado por este meio 34 mil pessoas, segundo a agência russa RIA-Novosti), podem votar todos os que tiverem mais de 16 anos, são eleitores os "voluntários" que combateram ao lado das tropas separatistas (russos e alguns europeus, apurou a AFP).

A Ria-Novosti, citando a comissão eleitoral local, diz ainda que já estão acreditados 30 observadores internacionais — americanos, franceses e alamães. A AFP, porém, diz que só haverá observadores russos, um grupo de deputados que no domingo vigiará as eleições separatistas.

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