“A procura interna ainda vai ser fraca durante algum tempo”

Jens Arnold é o chefe do departamento da OCDE que analisa a economia portuguesa e explica por que é que acredita que as exportações vão acelerar em 2015.

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Jens Arnold é o chefe da equipa que analisa a economia portuguesa na OCDE

A OCDE diz que a única forma de Portugal crescer é, no meio de um abrandamento na zona euro, aumentar ainda mais as exportações. E defende a continuação da estratégia do Governo de consolidação orçamental.

Têm uma previsão para o crescimento mais baixa do que a do Governo, mas estão mais optimistas em relação às exportações. Como é que se explica isso?
Se olharmos para o desempenho das exportações portuguesas, vê-se que melhorou em resultado das mudanças estruturais realizadas. Isso é uma coisa boa e deve reforçar-se ainda mais. É por isso que o perfil da nossa previsão de crescimento assume um maior contributo para procura externa do que da procura interna. Pensamos que a procura interna ainda vai ser fraca durante algum tempo.

Mas as exportações não serão afectadas pelo abrandamento europeu?
É verdade que, apesar de serem o motor da economia portuguesa, as exportações podem ao mesmo tempo ser afectadas pela limitação da procura proveniente do exterior, em especial da zona euro, onde estão os principais clientes das exportações portuguesas.

Em relação ao consumo, não devemos ter esperança que a recuperação registada em 2014 seja sustentável?
Nós prevemos um crescimento da procura interna em 2015, especialmente do investimento, mas não tão forte como em 2014. Vai ser um processo longo.

Com os problemas de financiamento que as empresas têm, é possível esperar uma recuperação do investimento?
É óbvio que os problemas no financiamento constituem um limite, mas acho que eventualmente irá acontecer. É um dos elementos da nossa previsão.

Preocupa-o que o défice estrutural apenas desça 0,1 pontos percentuais em 2015?
Achamos que a estratégia de consolidação orçamental do Governo é adequada e irá conduzir a uma redução da dívida pública em 2015. Há maneiras diferentes de calcular o défice estrutural, a nossa é diferente da utilizada pela Comissão Europeia. Acho que o Governo está no bom caminho.

A redução do défice não está demasiado dependente do andamento da economia?
Até 2012, inclusive, a maior parte da consolidação orçamental veio da redução da despesa. Em 2013, veio do lado da receita. Vai ser importante no futuro apostar mais na consolidação do lado da despesa, vai ser preciso mudar um pouco mais esse equilíbrio.

E como é que se evita prejudicar o andamento da economia?
Deixando os estabilizadores automáticos actuarem. Se o crescimento for mais baixo, haverá menos receitas fiscais e mais despesas sociais. E deve deixar-se que isso aconteça.

As regras europeias permitem que se faça isso?
Nós achamos que é isso que o Governo deve fazer. Sobre o que as regras europeias permitem deve ser a União Europeia a responder.

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