Israel ordena reinício de planos para construir mil casas em Jerusalém Leste

Autoridade Palestiniana fala em "perigosa escalada" numa altura em que se multiplicam focos de tensão na cidade.

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Manifestantes durante confrontos domingo à noite em Jerusalém Leste Ahmad Gharabli/AFP

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, vai acelerar o planeamento de mil novas casas em Jerusalém Leste, uma decisão anunciada sob pressão da direita radical, numa altura em que a tensão na cidade aumenta e faz temer pelo regresso da violência entre israelitas e palestinianos.

“Israel é responsável por esta perigosa escalada”, reagiu o porta-voz da Autoridade Palestiniana, Abu Rudeinah, citado pela agência de notícias Wafa pedindo a intervenção dos Estados Unidos para convencer Israel a travar a construção em zonas ocupadas, “porque a situação em toda a região está a evoluir para uma tempestade histórica e um sismo que vai atingir todos sem piedade”.

Segundo um responsável do Governo israelita, Netanyahu deu ordens para que sejam retomados os planos para a construção de 600 casas em Ramat Shlomo, numa área situada entre aquele bairro ultra-ortodoxo e o vizinho bairro árabe de Shoafat, adianta o jornal Ha’aretz, segundo o qual o projecto está parado desde 2006. Igualmente parados estavam os planos para a construção de 400 casas anexadas ao bairro de Har Homa, um projecto que tão antigo que em Janeiro desde ano foi arquivado pelos seus responsáveis.

“Estes planos existem há muito tempo”, disse à Reuters Pepe Alalu, um dirigente do comité de habitação de Jerusalém nomeado pela esquerda, enquanto fontes do Governo asseguram que Netanyahu não deu luz verde à construção das casas, situadas em zonas ocupadas desde 1967.

A decisão é vista, sobretudo, como uma tentativa para aliviar a pressão exercida pelo partido Casa Judaica, do ministro da Economia Naftali Bennett. O Ha’aretz noticia que o líder ultranacionalista avisou na semana passada o primeiro-ministro de que a coligação no governo poderá não resistir se não for autorizada a construção de 2000 novas casas em colonatos na Cisjordânia. Netanyahu rejeitou o pedido, propondo em alternativa o desbloqueamento dos dois planos em Jerusalém, a conclusão de 12 novas estradas para servir os colonatos na Cisjordânia e outros projectos de menor dimensão naquele território ocupado.

Mas mesmo o meio-termo é considerado inaceitável pela Autoridade Palestiniana, que denuncia mais uma tentativa para eternizar a anexação e inviabilizar um Estado palestiniano independente e deverá agravar as péssimas relações que Netanyahu mantém com a Administração norte-americana.

E o anúncio não podia surgir em pior altura, depois de dias de confrontos, disseminados mas violentos, em vários bairros árabes de Jerusalém. O último episódio da tensão que a cidade vive desde o início do Verão, na escalada que antecedeu a ofensiva israelita em Gaza, aconteceu quarta-feira quando um palestiniano lançou o carro que conduzia contra um grupo de peões, matando um bebé de três meses e ferindo com gravidade uma mulher, que acabaria por não resistir aos ferimentos. Durante o funeral do atacante, que Israel identifica como um membro do Hamas, voltaram a registar-se confrontos em vários bairros da cidade e na Cisjordânia um jovem, com dupla nacionalidade palestiniana e americana, foi morto por disparos de soldados israelitas.

A adensar a tensão, a Autoridade Palestiniana continua a acusar o Governo israelita de querer alterar o status quo do Haram al-Sharif (Nobre Santuário), onde se ergue a mesquita de Al-Aqsa, para supostamente permitir que os judeus possam rezar no local, por eles conhecido por Monte do Templo e situado sobre o Muro das Lamentações. Sob administração religiosa muçulmana mas em território controlado por Israel, o local está aberto a visitantes, mas apenas os muçulmanos podem fazer ali as suas orações. Netanyahu desmente os rumores, instigados por uma pressão crescente de grupos de activistas e políticos de direita. Mas nos últimos meses sucederam-se escaramuças entre as forças de segurança e jovens na zona.

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