Ordem de prisão para autarca da cidade mexicana onde desapareceram 43 estudantes

Manifestantes incendeiam Câmara Municipal de Iguala e exigem: "Levaram-nos vivos, devolvam-nos vivos".

Foto
Fotografias dos desaparecidos na vedação da câmara municipal Reuters

Um grupo de manifestantes incendiou, nesta quarta-feira, o edifício da câmara municipal de Iguala, a cidade mexicana onde desapareceram 43 estudantes que participavam numa manifestação que foi violentamente reprimida. Pouco depois, as autoridades judiciais emitiram uma ordem de prisão contra o presidente da câmara, acusado de ser o "instigador dos factos ocorridos" na cidade.

"Mandados de prisão foram emitidos contra o presidente da câmara", José Luís Abarca, a sua mulher e o responsável municipal pela segurança pública, anunciou numa conferência de imprensa na Cidade do México o ministro da Justiça, Jesus Murillo Karam. Abarca é acusado de ser o "instigador dos factos ocorridos em Iguala".

Abarca foi um dos alvos dos cinco mil manifestantes que se juntaram no centro de Iguala para exigir que os estudantes apareçam com vida. Exigiram a sua demissão. "Levaram-nos com vida, devolvam-nos com vida", gritou a multidão onde estavam os pais dos desaparecidos, os seus colegas e cidadãos que quiseram expressar revolta pelo que aconteceu numa cidade totalmente dominada pelo narcotráfico.

Os estudantes desapareceram no dia 26 de Setembro, após participarem numa manifestação contra as reformas no ensino, que estão a ser contestadas em todo o México. Os estudantes de Ayotzinapa, que têm entre 17 e 21 anos, protestavam contra uma disposição relativa à contratação de professores, que passaria a dar preferência às escolas urbanas sobre as rurais.

A associação de estudantes a que pertencem disse que os colegas estavam já a tentar encontrar transporte para regressarem à escola quando foram vistos pela última vez, na companhia de polícias. Terão entrado em veículos e suspeita-se que tenham sido entregues a narcotraficantes. Há gravações de câmaras de segurança em que se vêem dezenas de estudantes a serem forçados a entrar nos veículos da polícia, conforme relatou na altura o jornal El Universal.

O desaparecimento indignou o país e já se realizaram várias manifestações de protesto. Esta quarta-feira realizaram-se mais uma série de marchas e a de Iguala acabou com o incêndio da Câmara Municipal. Centenas de manifestantes entraram no edifício, que estava vazio — a AFP relata que o edifício não estava guardado nem por polícias municipais nem federais, tendo estes últimos assumido o controlo da cidade depois do desaparecimento dos estudantes.

Apesar das investigações, não há qualquer pista sobre o que poderá ter acontecido aos estudantes. Já foram realizados testes de ADN a corpos encontrados em valas comuns, mas sem resultados positivos. Outros testes estão a ser realizados a corpos encontrados noutro grupo das muitas valas comuns que existem em Iguala.

As autoridades acreditam que a detenção de Sidronio Casarrubias, o “líder máximo” do cartel de narcotráfico Guerreros Unidos, pode abrir uma nova linha de investigação e permitir saber-se o que aconteceu aos estudantes.

Sugerir correcção
Comentar