Investimento brasileiro em Portugal dispara para os 3552 milhões de euros

A entrada de dinheiro vindo do Brasil para Portugal atingiu valores nunca vistos, tirando o primeiro lugar a Espanha. Só em Maio chegaram 3457 milhões. A fusão da PT com Oi explica parte, mas não tudo.

O número impressiona: entre Janeiro e Julho deste ano o investimento directo estrangeiro (IDE) bruto do Brasil em Portugal chegou aos 3552 milhões de euros, colocando este país no primeiro lugar do ranking e destronando a Espanha (2771 milhões). Nunca se assistiu a nada parecido. Mesmo somando os períodos homólogos dos últimos quatro anos, o valor aplicado pelo Brasil fica-se pelos 2106 milhões de euros.

Ao mesmo tempo, não há uma explicação clara e objectiva para este enorme aumento. Tanto a Câmara do Comércio e Indústria Luso-Brasileira em Portugal como a Embaixada do Brasil estão a tentar perceber com exactidão o que aconteceu neste período, ou, mais exactamente, em Maio, mês em que o total de investimento directo estrangeiro bruto (sem contar com desinvestimentos), subiu 78%, passando dos 7979 milhões de euros para 14.211 milhões. Durante as semanas de Maio, entraram 6232 milhões de euros em Portugal e, dentro deste bolo, surge o grosso do IDE brasileiro: 3457 milhões. Até Abril, do Brasil tinham chegado apenas 25 milhões.

Mesmo do ponto de vista do Brasil, a entrada deste montante é extraordinária (vale mais de 20% do total), colocando Portugal à frente do resto do mundo, com excepção das ilhas Caimão (e que funcionam como plataforma giratória de aplicações de capital), segundo dados do banco central brasileiro.

Há, no entanto, uma pista nos dados oficiais do banco central deste país, já que o investimento no estrangeiro incluído na rubrica “telecomunicações”, entre Janeiro e Agosto, dispara de forma abrupta para 4464 milhões de dólares (cerca de 3499 milhões de euros, ao câmbio actual). Nem tudo terá sido para Portugal, mas há claramente uma relação entre este valor e o montante que entrou em Portugal no mês de Maio. Essa é, aliás, a percepção da própria Câmara do Comércio Luso-Brasileira.

De acordo com dados recolhidos pelo PÚBLICO, o processo de fusão entre a PT e a Oi, que ainda está em curso e só deverá estar concluído no final do primeiro trimestre de 2015, já implicou mais do que uma transferência de capital entre as duas empresas. Em Maio houve lugar a uma capitalização de 1600 milhões de euros da PT nas holdings do universo Oi e, no sentido inverso, uma capitalização da Oi na PT. Esta ocorreu em duas tranches, de 1250 milhões e 750 milhões de euros, em Maio e Agosto, respectivamente.

A questão é que estes dados só explicam pouco mais de um terço do IDE brasileiro, já que o primeiro valor se apresenta como uma saída de capital, e não uma entrada, e os dados da agência que acompanha esta realidade em Portugal, a AICEP, situam em Maio o grande salto no dinheiro do Brasil. A AICEP não esclareceu as dúvidas do PÚBLICO, remetendo para o Banco de Portugal que, por norma, não fornece dados qualitativos, mas sim quantitativos.

Olhando para os dados da AICEP e do Banco de Portugal, a entrada de capital da Oi terá sido contabilizada como uma operação financeira e não do sector específico das telecomunicações, já que é na primeira que se regista um enorme aumento, tal como na rubrica “investimento no capital de empresas”.

Além da fusão entre a PT e a Oi, sabe-se que os brasileiros da Camargo Corrêa são agora os donos da Cimpor, e que a Embraer tem apostado forte em Portugal. A estes factos acresce a apetência pelos vistos gold, com o Brasil a fazer parte dos países que têm aproveitado a compra de imóveis acima dos 500 mil euros para beneficiarem do regime especial de Autorização de Residência para Actividade de Investimento (ARI). De acordo com os dados do Governo, “os principais investidores são provenientes da China, Brasil, Rússia, África do Sul, Líbano, Angola e Moçambique”.

Entre empresas e vistos gold, não se sabe ao certo quanto dinheiro veio de onde, pelo que o mistério dos 3457 milhões vindo do Brasil em Maio está ainda por esclarecer na totalidade.

O certo é que, ao tudo, o IDE bruto em Portugal nos primeiros sete meses deste ano atingiu os 17.777 milhões de euros, mais 15,4% face a idêntico período de 2013. Mas, retirando apenas os 1250 milhões da operação Oi/PT de Maio (um factor extraordinário), a subida desce para menos de metade (7,3%) e longe dos 24.557 milhões de 2012. E, olhando para os cinco principais investidores em 2013 (Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e Holanda, que tradicionalmente estão no topo), verifica-se que houve uma descida de 23,5%, para os 9148 milhões de euros (-2803 milhões). Todos desceram, mas a maior queda foi protagonizada pelo Reino Unido, com menos 44% face a Janeiro a Julho do ano passado, o que equivale a 1082 milhões. Já a praça financeira do Luxemburgo ajudou, ao subir 103%, para 1654 milhões. A nível geral, verificou-se uma descida nos lucros reinvestidos e na rubrica de créditos, empréstimos e suprimentos de capital. Com Ana Brito

Sugerir correcção
Ler 1 comentários