Um kamikaze que sobreviveu, no DocLisboa

Esta sexta-feira o testemunho de um piloto suicida japonês da Segunda Guerra Mundial

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Parole de Kamikaze

Incluído no ciclo “O Nosso Século XX – O Cinema Face à História”, o DocLisboa exibe esta sexta-feira em sessão única (City Campo Pequeno, 21h30) um dos mais singulares testemunhos do cinema documental recente.

Apresentado fora de concurso no festival de Locarno, Parole de Kamikaze dá rosto aos temidos pilotos suicidas japoneses da Segunda Guerra Mundial – através do depoimento de um deles, Fujio Hayashi, voluntário da divisão Ohka. Os Ohka eram pequenos aparelhos sem motor, "bombas voadoras" cujos pilotos se limitavam a dirigir o leme para se atirarem contra alvos navais.

Parole de Kamikaze é essencialmente um testemunho filmado em longos planos fixos, pontuados por silêncios durante os quais Hayashi - que sobreviveu porque a guerra acabou antes de ser enviado em missão, mas que enviou dezenas de subalternos e amigos para a sua morte - recorda esses anos de juventude.

É, coisa estranha, um filme "sem autor", como se quem o fez quisesse apenas servir de veículo para uma memória que corre o risco de se perder: Hayashi tenta há mais de 50 anos colocar no papel as suas memórias, num livro a que quer chamar Voluntário para o Suicídio mas que na realidade não consegue terminar.

Masa Sawada, produtor japonês há muito radicado em França, é o realizador nominal, mas foi Bertrand Bonello, em presença de Sawada, a dirigir a rodagem da entrevista. Mas talvez seja precisamente essa a chave do sucesso de Parole de Kamikaze: pouco interessa quem o filmou, o importante é que a história de Hayashi, as certezas e as dúvidas daqueles que durante muito tempo foram entendidos apenas como fanáticos suicidas, seja contada. A quietude quase zen com que tudo é mostrado faz deste filme uma experiência da qual não se sai incólume.

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