Como elas mordem

Quando saiu Blood On The Tracks eu comprei-o (como todos os discos de Dylan) e fiquei apaixonado pelas canções. Mas, mesmo assim, lembro-me de ter pensado: este disco é um disco do Dylan já velho, a divorciar-se.

Ando a reler o primeiro volume de Chronicles, de Bob Dylan. Ao contrário de outros grandes compositores, Dylan é o maior fã de outros grandes compositores e cantores. É capaz de ser a pessoa que mais bem conhece - e mais ama - a música popular americana. Ninguém escreveu tão bem como ele sobre, entre muitos exemplos, Roy Orbison.

Dylan espanta-me todos os anos desde que me espantou pela primeira vez em 1963 - o ano do primeiro álbum dos Beatles - com o segundo álbum para a Columbia, The Freewheelin' Bob Dylan. A fotografia da capa atingiu-me tanto como ainda hoje: era assim que eu queria ser; era assim que eu queria ter sido.

Comecei também a ler Time Out of Mind, de Ian Bell, o segundo volume da correcta mas chata biografia de Dylan, que começa com o álbum Blood On The Tracks de 1975.

Quando saiu Blood On The Tracks eu comprei-o (como todos os discos de Dylan) e fiquei apaixonado pelas canções. Mas, mesmo assim, lembro-me de ter pensado: este disco é um disco do Dylan já velho, a divorciar-se. Tive pena da distância de idades entre nós. Eu só tinha 19 anos e Dylan era um velho, casado, à beira de divorciar-se.

Leio agora que Dylan, quando gravou aquele eterno imortal, tinha 33 anos. Trinta e três anos! Hoje as minhas queridas filhas têm 33 anos e não sabem a metade do que eu sei.

Blood On The Tracks, afinal, é uma obra-prima de uma pessoa novinha de mais para saber como elas mordem.

Ou será que é preciso ser-se novo para se saber como elas mordem?

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