Manifestantes de Hong Kong atacados por centenas de pessoas

Activistas denunciam “mafiosos” e hooligans contratados pelo governo para retirar à força os manifestantes pró-democracia.

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Grupo de pessoas tentou retirar as vedações do local dos protestos Carlos Barria / Reuters

Um grupo de centenas de pessoas entrou nesta segunda-feira em confrontos com os manifestantes que têm ocupado várias zonas do centro de Hong Kong durante as últimas duas semanas.

A polícia conseguiu travar a multidão que tentava retirar as vedações e remover os milhares de manifestantes que têm ocupado as ruas em redor da sede do governo local, no bairro de Admiralty. Muitos dos que estão contra os protestos são os taxistas de Hong Kong, que conduziram os seus carros até perto das vedações e buzinaram, descrevem vários correspondentes.

Ao início da manhã, a polícia já tinha começado a retirar algumas das barricadas para deixar o trânsito circular, mas autorizou os manifestantes a permanecer nos locais que ocupam. Alguns manifestantes acusaram, porém, a polícia de estar a tentar forçar a desocupação. “Não iremos sair daqui e estou pronto a ser preso”, disse à AFP Cherry Yuen.

Poucas horas depois, centenas de pessoas, algumas com as caras tapadas, começaram a chegar ao local dos protestos para tentar retirar os manifestantes, dando azo a algumas escaramuças. “Um grupo de pessoas que pareciam gangsters começou a correr na direcção deles [dos manifestantes] e um deles bateu num idoso com algo duro, na cabeça”, contou à Reuters Winnie Locke, uma estudante que tem feito parte dos protestos.

O deputado do Partido Democrático Albert Ho disse à AFP que se tratava de membros de “tríades [grupos mafiosos] ou de hooligans pró-governo”. A polícia deteve três pessoas por agressões e porte de arma.

Entre o grupo que tentou dispersar os manifestantes gritavam-se slogans como “Abram as estradas” ou “Occupy é ilegal” – uma referência a um dos movimentos pró-democráticos que têm estado por trás dos protestos. A Reuters notava que algumas pessoas falavam mandarim – e não cantonês, o idioma falado pela maioria da população do território –, o que indicia que não seriam moradores de Hong Kong. “Eu costumava apoiar o movimento, mas o meu negócio começou a ser afectado”, disse um taxista de 25 anos, que calcula ter perdas de 60% desde que começaram os protestos.

Este não é o primeiro episódio do género, despertado pelas manifestações em Hong Kong. Logo nos primeiros dias, no início do mês, foram detidas 19 pessoas, oito das quais pertencentes às tríades, por se envolverem em confrontos com activistas no bairro comercial de Mong Kok, na parte continental do território.

Desde o início do mês que Hong Kong tem assistido às maiores manifestações desde que passou para a administração chinesa, em 1997. A principal reivindicação é a possibilidade de se eleger directamente o chefe do governo local nas eleições de 2017. Em Agosto foi aprovada uma reforma que instaura o sufrágio universal, mas os candidatos têm de passar pelo crivo de um comité próximo de Pequim.

O braço-de-ferro entre os manifestantes e o governo local tem continuado desde então. No domingo, o muito contestado chefe do executivo, Leung Chun-ying, afirmou que as hipóteses de Pequim mudar de ideias em relação à eleição do governo são “quase zero”. Leung, em entrevista a um canal de televisão chinês, disse ainda que os protestos “estão fora de controlo” e não descartou a possibilidade de recorrer à força para repor a normalidade.

Na semana passada, cada vez menos gente se concentrava no local dos protestos e a rotina de Hong Kong parecia regressar ao normal. A perspectiva de um diálogo entre os líderes dos protestos – muitos deles presidentes de associações estudantis – e os dirigentes locais era já encarada como uma vitória, embora poucos perspectivassem grandes cedências.

No entanto, o governo de Hong Kong cancelou o encontro previsto para a última sexta-feira, levando os manifestantes a apelar a uma maior mobilização e até a recorrer à ocupação de edifícios governamentais.

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