Um triplo atlas para as viagens de Pancho Guedes

Em Fevereiro, haverá livro, exposição e documentário sobre as deambulações de um dos mais singulares arquitectos portugueses.

Foto
Pancho Guedes na sua casa de Sintra RUI GAUDÊNCIO

Há uns anos, quando preparavam um volume a incluir na colecção Arquitectos Portugueses, que o PÚBLICO distribuiu em 2011, José Luís Tavares e Lucio Magri depararam com o tesouro “em parte totalmente desconhecido, em parte muito mal conhecido” dos labirínticos arquivos de Pancho Guedes (dois, um por cada uma das casas que mantém em Portugal, entre Lisboa e Sintra). “Ficámos maravilhados com a quantidade de imagens. Todo o tipo de imagens: fotografias do dia-a-dia feitas por ele e pela família (fotografavam em família, revelavam em família, projectavam em família), fotografias de trabalho (documentando os projectos em processo e depois de concluídos), fotografias de obras de outros autores que lhe interessavam, e fotografias de viagens. O Pancho Guedes começou a viajar muito cedo para a Europa e para o resto do mundo – e levava sempre a máquina fotográfica atrás”, diz José Luís Tavares ao Ípsilon.

É a partir desse material (que por vezes surge duplicado, provocando fascinantes ilusões ópticas: “Para além de tudo isto, o Pancho também fotografava livros, postais, mapas. E ainda fotografava as fotografias dele, e as projecções das fotografias dele na parede”) que a mesma dupla de arquitectos está agora a trabalhar num segundo projecto em torno de um dos casos mais singulares da arquitectura portuguesa, cuja obra construída se encontra maioritariamente em Moçambique. Pancho Guedes Viagens, espécie de atlas triplo (livro, exposição, documentário) das deambulações de Pancho Guedes pelo mundo, terá a sua primeira apresentação pública em Fevereiro, no Espaço Quadra da Escola Superior de Arte e Design (ESAD) de Matosinhos, uma das entidades por trás deste projecto financiado pela DGArtes. A seguir, fará itinerância por mais seis cidades do país: Castelo Branco, Ponta Delgada, Évora, Caldas da Rainha, Guimarães e Bragança.

Para reconstituir e classificar as viagens de Pancho Guedes, José Luís Tavares, Lucio Magri e o documentarista Israel Pimenta estão há uma semana na África do Sul, onde prevêem registar algumas das obras mais emblemáticas do arquitecto (que ali se formou na Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo), passar alguns dias com ele na reserva onde vive actualmente com a filha, revendo e comentando uma selecção dos seus infindáveis slides, e recriar (nalguns casos, será mesmo criar de raiz) algumas das suas viagens, num percurso que cruzará a Suazilândia e terminará em Moçambique, já em Novembro. “Esta viagem é a forma que encontrámos de organizar o arquivo do Pancho, que desafia qualquer forma de organização tradicional, a começar pela cronológica – há caixas que se chamam “Nunca deixes o sol bater no vidro”… E de o fazer participar nessa organização, para que reflicta a sua biografia, a sua mundividência, a sua maneira de pensar”, explica ainda José Luís Tavares.

Em livro, este atlas – que terá design de João Faria – vai incluir ainda textos de três autores convidados: Luís Bernardo Honwana, escritor moçambicano; Marilyn Martin, directora das colecções de arte dos Iziko Museums, na Cidade do Cabo; e Eduardo Brito, fotógrafo e fundador do Centro para os Assuntos da Arte e da Arquitectura, em Guimarães. Para que, partindo dos lugares de Pancho Guedes, seja possível “chegar a outros lugares”.

Sugerir correcção
Comentar