Falha de protocolo apontada como causa para primeiro contágio de ébola nos EUA

Infectada é uma enfermeira que assistiu Thomas Duncan, liberiano que contraiu o vírus durante viagem a África e morreu em Dallas. Autoridades admitem que outros profissionais de saúde possam ter sido expostos

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O doente esteve em contacto com Thomas Duncan no Hospital Presbiteriano de Dallas Jim Young/reuters

Uma enfermeira da equipa do hospital de Dallas que assistiu a primeira vítima mortal de ébola nos Estados Unidos está infectada com o vírus, segundo os resultados das análises preliminares que realizou após ter sido internada com sintomas da doença. É o segundo caso de contágio fora de África e, tal como no caso da auxiliar de enfermagem espanhola, as autoridades dizem que houve uma falha nos protocolos em vigor, admitindo que outros profissionais que contactaram com Thomas Duncan possam vir a adoecer.

“Sabíamos que poderia haver um segundo caso e tínhamo-nos parado para essa eventualidade”, afirmou David Lakey, chefe do Departamento de Saúde do Texas, ao dar conta do contágio, assegurando que os seus serviços “estão a reforçar as equipas e a trabalhar com extrema diligência para evitar novas infecções”. A visada pediu para que a sua identidade não fosse revelada, mas uma fonte do hospital adiantou à CNN que se trata de uma enfermeira que foi uma das 50 pessoas que estiveram envolvidas nos cuidados a Thomas Duncan, um cidadão da Libéria residente nos EUA, que morreu dia 8 no Hospital Presbiteriano de Dallas, duas semanas e meia depois de ter regressado de África. O seu estado é considerado estável e uma pessoa que lhe era próxima foi colocada em isolamento por prevenção.

Dan Varga, responsável clínico do grupo que gere o hospital, explicou que foi a própria infectada quem lançou o alerta: cumprindo as indicações de medir duas vezes por dia a sua temperatura, começou a sentir febre sexta-feira à noite, notificou o hospital e foi de imediato internada num quarto de isolamento. Todo o processo, adiantou Varga, não demorou mais de 90 minutos. Os resultados dos primeiros testes confirmaram a presença do vírus, uma conclusão que as amostras enviadas para o laboratório dos Centros de Prevenção de Doenças (CDC), em Atlanta, deverão confirmar.

As autoridades puseram de imediato em marcha o plano para identificar as pessoas com quem a enfermeira esteve em contacto nos últimos dias. Trata-se de um trabalho sistemático que, no caso de Duncan, levou a que 48 pessoas fossem colocadas sob vigilância, dez das quais (a noiva, dois familiares e sete profissionais de saúde) eram consideradas como tendo estado em alto risco de contágio. “Vai ser preciso uma nova equipa de pessoas para rastrear todos os contactos” da enfermeira, adiantou a especialista em questões médicas da CNN, Elizabeth Cohen, explicando que depois de os identificar é preciso “mantê-los sob vigilância, medir-lhes a temperatura duas vezes por dia e garantir que não abandonam os seus locais de residência habitual”.

Em paralelo, os serviços de saúde tentam reconstituir os passos da enfermeira para tentar perceber como terá sido infectada. Dan Varga assegurou que a equipa hospitalar que tratou Duncan “seguiu na íntegra todas as indicações do CDC”, incluindo o uso “de batas, luvas, máscara e viseira”, admitindo estar “muito preocupado” com o facto de mesmo assim ter havido contágio.

Mas o director dos CDC, a autoridade federal máxima na gestão de surtos epidémicos nos EUA, mostra-se assertivo. “Em algum momento houve uma falha no protocolo de segurança e essa falha teve como resultado esta infecção”, afirmou Tom Frieden, numa conferência de imprensa em Atlanta, repetindo aquilo que vários especialistas têm dito: “Os protocolos [para evitar a propagação do ébola] funcionam, mas um único lapso ou falha pode resultar numa infecção”.

Frieden adiantou ainda que a paciente “teve um contacto prolongado” e em “múltiplas ocasiões” com Thomas Duncan, o que torna mais provável que em algum momento tenha cometido alguma falha. O responsável admitiu que outros profissionais de saúde possam adoecer – “se esta pessoa esteve exposta é possível que outros tenham estado”.

Uma falha no protocolo de segurança é também apontada como a causa provável para o contágio de Teresa Romero, a auxiliar de enfermagem que integrou as equipas do hospital de Madrid onde foi tratado um missionário espanhol que contraiu ébola em África. Responsáveis admitiram que Romero terá sido infectada ao tocar na cara quando, ainda de luvas, retirava o equipamento de protecção, mas o Ministério da Saúde adiantou neste domingo que as investigações ainda decorrem. Adiantou, por outro lado, que a auxiliar apresenta alguns sinais de melhoria, “com uma diminuição da carga viral”, o que apesar da gravidade do seu estado é “razão para ter esperança”.  

O actual surto de ébola, que começou em Dezembro, matou mais de quatro mil pessoas, a quase totalidade na Guiné, Libéria e Serra Leoa. A ONU alerta para uma aumento exponencial de novos casos na região, face à incapacidade de resposta dos sistemas de saúde nacionais e à insuficiência da ajuda internacional. A directora-geral do Fundo Monetário Internacional diz, no entanto, que a mobilização que é necessária para travar a epidemia não deve servir de pretexto para “ostracizar” os países mais atingidos nem “criar um clima de terror no planeta ou sequer em toda a África”.  

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