Viva o Pelarigo!

Chamava-se Fadistices com alma a crónica que o Nuno Pacheco escreveu no Ípsilon de anteontem sobre António Pelarigo que "agora, aos 61 anos, gravou enfim 'o' disco. E fê-lo como se já tivesse gravado cem".

Nunca tinha ouvido falar dele; muito menos tê-lo ouvido. Mas que grande fadista! É muito influenciado pelo maior fadista de sempre - João Ferreira-Rosa - mas, como todos os grandes fadistas, as influências são generosidades e gratidões.

Os homens são menos sensíveis aos fadistas do sexo masculino mas, quando os fadistas batem, batem-nos no coração: Marceneiro, Carlos Ramos, João Ferreira-Rosa, Camané, Ricardo Ribeiro, Rodrigo Costa Félix e agora António Pelarigo, com muitos outros grandes fadistas que levariam duas páginas inteiras a lembrar.

Os homens fadistas são, no mínimo, tão bons como as mulheres fadistas. Mas são prejudicados por serem homens. O fado é feminista: só no fado, tal como na realidade, é que os homens sofrem mais do que as mulheres.

O fado, à parte duas ou três imbecilidades sobre os cavalos e as mulheres, é libertário e democrático. O sofrimento e o destino não distinguem o feminino do masculino: são humanos, como é o fado.

Os blues são masculinos e encornados mas o fado é humano. O primeiro disco de Rodrigo Costa Félix, em que a Marta, que decidiu casar-se com ele, toca guitarra portuguesa, é a prova que os tempos não mudaram: apenas melhoraram.

O álbum de António Pelarigo salva-nos e justifica-nos a todos.

 

 

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