Era uma golden share, se faz favor

Até há pouco tempo, sabia-se o que era a Portugal Telecom: uma empresa de telecomunicações que lutava para manter a liderança em Portugal, que apostava no estrangeiro, preferencialmente nos países de língua portuguesa.

Era um dos maiores grupos nacionais, garante de milhares de postos de trabalho e com provas dadas na área da inovação. Hoje, confesso que já não sei o que é a PT. Não se trata aqui de falar da saída de Zeinal Bava, dois meses após a demissão de Henrique Granadeiro, atingidos pela ligação demasiado umbilical entre a PT e o GES (o maior accionista da operadora). Trata-se, isso sim, de analisar que empresa é esta nos dias que correm.

O retrato não é bonito. Mas recuemos um pouco para perceber o que passou. Um dia, o namoro com a Telefónica no Brasil acabou e a empresa espanhola pagou um valor bastante elevado pelo divórcio, com o apoio da golden share do Estado português (que dava poderes de veto). No rebound, a PT foi parar à Oi, empresa mais pesada e envelhecida. Tudo bem, ambas poderiam beneficiar da relação.

Depois, passou-se a uma união de facto, para criar uma grande empresa da lusofonia. A PT começava a desaparecer e os acontecimentos precipitaram-se com o colapso do BES. A dívida à Rioforte enfraquece os accionistas portugueses, o domínio brasileiro acentua-se, anuncia-se a saída de Angola e até já é vista com naturalidade uma venda da PT (Portugal) aos franceses da Altice. Há uns anos, seria um crime de lesa-majestade a Telefónica entrar por Portugal adentro. Tudo isto faz com que sinta saudades da golden share. E isso é mau.

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