CP sem comboios para assegurar serviço na linha do Oeste

Sem material circulante disponível, as supressões têm sido diárias, deixando passageiros apeados nas estações sem qualquer informação.

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Sandra Ribeiro

Em Setembro a CP suprimiu 14 comboios na linha do Oeste devido a falta de material. Estas supressões foram quase diárias visto que se concentraram na última quinzena do mês e mantêm-se agora no início de Outubro.

Fonte oficial da empresa diz que “estas supressões ficaram a dever-se a necessidades de imobilização de material circulante, que não foi possível antecipar” e que a frota disponível para o Oeste “não tem permitido, efectivamente, disponibilizar alternativas para substituir as unidades imobilizadas”.

Como parte das estações não têm pessoal em serviço, grande parte dos passageiros fica apeado, sem qualquer informação. A situação tem afectado, sobretudo, o eixo Caldas da Rainha – Torres Vedras. No Bombarral, por exemplo, estudantes e trabalhadores têm ficado em terra, sem transporte para a escola ou para o emprego.

Por outro lado, a supressão de um comboio leva a atrasos sistémicos em todos os outros por não haver automotoras que assegurem a rotação do material, o que se repercute em atrasos em toda a linha, levando passageiros com destino ao Porto e Beira Alta a perderem as suas ligações em Coimbra.

A Assembleia Municipal do Bombarral aprovou, por unanimidade, um voto de protesto proposto pelo PS local por a CP “continuar a desinvestir na linha do Oeste, não honrando o contrato de serviço público de transporte ferroviário celebrado com o Estado e prejudicando de forma flagrante os utentes da mesma”.

A CP responde que a situação deverá normalizar em Outubro porque pretende desviar para o Oeste uma automotora da linha do Alentejo (do troço Casa Branca – Beja). E que, logo que possível, reforçará a sua frota a sul com automotoras espanholas que alugou à sua congénere Renfe e que estão em serviço no Douro e Minho.

No entanto, estas unidades são também material envelhecido (já tinham sido desafectadas do serviço regional em Espanha) e igualmente sujeitas a avarias, como tem acontecido no Norte do país.

Nos últimos anos a CP abateu ao seu activo dezenas de automotoras a diesel que foram vendidas para sucata. Foi uma forma de poupar nos custos de imobilização de material e de obter alguma receita para os seus depauperados cofres. Só que esse material faz agora falta e obrigou a aumentar o número de automotoras alugadas a Espanha.

O abate de material diesel era também feito no pressuposto de que a Refer iria electrificar as linhas e que o futuro seriam os comboios eléctricos (os quais a CP tem disponíveis). Mas já não é seguro que este programa de modernização avance, sobretudo desde que se decidiu fundir a Refer com as Estradas de Portugal.

O PÚBLICO apurou que os investimentos de electrificação estão semi-paralisados na Refer por as Finanças ainda não terem dado o seu aval e devido às dúvidas provocadas pelo processo de fusão.

A futura mega-empresa Infrastruturas de Portugal EP, que juntará rodovia e ferrovia, terá uma lógica de gestão diferente da actual Refer, pelo que algumas electrificações previstas podem não avançar. Um autêntico drama para a CP – que não foi ouvida neste processo de fusão – que está sujeita a um parque de material diesel cada vez mais envelhecido e com reparações cada vez mais caras.

 

 

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