Em tempos de crise, a feira quer-se mais política

A Feira do Livro de Frankfurt começa esta quarta-feira e quer ser o sítio de troca de ideias e de abertura ao mundo.

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A feira abre ao final da tarde de terça-feira: aqui um dos 7300 exibidores vindos de mais de 100 países REUTERS/Ralph Orlowski

Desde segunda-feira que o escritor brasileiro Paulo Coelho está a partilhar fotografias com os seus leitores nas redes sociais (no Twitter tem 9 milhões de seguidores e no Facebook mais de 22 milhões de pessoas).

Umas são recentes, tiradas por estes dias no recinto da Feira do Livro de Frankfurt que começa esta quarta-feira e termina domingo, e outras são antigas, recordando os tempos em que aqui comemorou a sua entrada no Guinness, o livro dos recordes, como o autor vivo mais traduzido no mundo.

O autor de O Alquimista – que está a lançar em todo o mundo o seu novo romance Adultério (ed. Pergaminho) – é  um dos convidados da 66ª edição daquela que é a mais importante feira do sector editorial. Ao final da tarde desta quarta-feira, ele que é o exemplo do autor que utiliza todos os recursos disponíveis para chegar a mais leitores, estará à conversa com o director da Feira do Livro de Frankfurt, Juergen Boos, sobre o futuro da leitura. É um dos eventos mais importantes do primeiro dia, de tal maneira que já esgotou (até para os jornalistas) e por isso a conversa irá ser transmitida em live streaming através do site da feira.

O ano passado Paulo Coelho estava na comitiva dos escritores brasileiros que participariam na feira, já que o Brasil era o país convidado. Mas em protesto cancelou a sua ida em cima da hora por considerar que alguns dos autores best-sellers da literatura infantil brasileira deviam ter sido incluídos na lista dos convidados e que não se estava a dar lugar aos mais novos. Nessa altura prometeu a Juergen Boos que estaria presente em 2014 e isso foi anunciado com pompa e circunstância.

Mas não só de Paulo Coelho gozará o primeiro dia da feira que este ano tem 7300 exibidores vindos de mais de 100 países e mais de 3400 eventos agendados. Há muito tempo que não se via em Frankfurt um início tão agitado. Outro autor de best-sellers, o escritor britânico Ken Follett, também repetente na feira desde que os seus livros se tornaram em séries de televisão de sucesso, apresentará o seu mais recente romance No Limiar da Eternidade, último volume da trilogia O Século, já editado em Portugal pela Editorial Presença.

Também um dos mais poderosos editores do mundo, Brian Murray, CEO do grupo HarperCollins e convidado deste ano da CEO Talk 2014, estará no primeiro dia da feira a responder a perguntas de jornalistas da imprensa especializada (da Livres Hebdo, The Bookseller, PublishNews Brazil, Publishers Weekly). E a escritora dinamarquesa Janne Teller fará as honras de abrir um novo espaço na feira - o Lounge dos Autores, que se situa no Pavilhão 5.1 e é um local onde os autores podem descansar e trocar ideias.

Ao mesmo tempo, Janne Teller dará início ao Frankfurt Undercover, um novo projecto para autores que acontece pela primeira vez na feira e de que é curadora. Durante três dias, a curadora e um grupo de autores vão estar a preparar um documento intitulado Compendium of Thoughts, um compêndio de pensamentos, como o nome indica, que depois será apresentado ao público e é entendido como “um presente para os políticos”. Janne Teller defende que por causa da natureza da crise que atravessamos os autores estão a sentir a necessidade de serem mais empenhados politicamente.

Dar sentido e ganhar dinheiro

“Os autores sempre foram a grande atracção do público na Feira do Livro de Frankfurt”, disse na terça-feira de manhã o director Juergen Boos na conferência de imprensa de apresentação da feira que este ano tem como país convidado a Finlândia. Por isso se dá este ano tanta importância ao projecto Frankfurt Undercover. Para o director da feira, entre outras coisas, ele mostra que há uma nova geração de autores que quer ter um papel activo neste sector, até politicamente, por exemplo, quando assina petições contra a gigante Amazon e as suas estratégias comerciais.

“Um pouco por todo o mundo testemunhamos constantemente a erupção de crises. Em toda a parte assistimos a partes em conflito incapazes de se abrirem às opiniões dos outros. Este é o momento para, com flexibilidade intelectual, se aprofundar o respeito pela diversidade de opiniões”, acrescentou Juergen Boos num discurso muito político em que defendeu a necessidade de a indústria editorial mundial contribuir para essa troca de ideias, essa transmissão de conhecimento e para a interacção entre culturas. “O livro e a indústria de conteúdos são globais, funcionam numa rede internacional e uma semana por ano a Feira do Livro de Frankfurt é a sua capital mundial. É aqui que tudo ganha sentido e que se ganha dinheiro”, disse. E a Feira do Livro de Frankfurt é um dos poucos locais que oferecem um contexto apropriado para discussões transnacionais culturais e de política cultural, acrescentou.

Por isso, o prémio de literatura que a Comissão da União Europeia atribui desde 2009, o Prémio Europeu da União Europeia, será anunciado na Feira do Livro de Frankfurt na manhã desta quarta-feira. Este ano, entre os finalistas não há nenhum português. Mas em 2012 Afonso Cruz foi um dos premiados e Dulce Maria Cardoso também já o recebeu.

No final da tarde de terça-feira, decorreu a cerimónia de abertura oficial da Feira do Livro de Frankfurt com discursos do presidente dos editores e livreiros alemães, do director da feira e dos oradores do país convidado: a escritora finlandesa Sofi Oksanen e o especialista em educação finlandês, Pasi Sahlberg.

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