“Se eu morrer, saibam que o fiz a tentar ajudar os que precisavam”

Pais de jovem norte-americano capturado e ameaçado de morte pelo Estado Islâmico revelam carta do filho. Kassing, um ex-ranger, foi para o Líbano em 2012 oferecer-se como voluntário para tratar os refugiados sírios.

Os pais de Peter Kassig no vídeo, com uma foto do filho
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Os pais de Peter Kassig no vídeo, com uma foto do filho AFP
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Kassig com a mãe Paula numa viagem de família em 2000 REUTERS
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A pescar com o pai, Ed Kassig, em 2011 REUTERS
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Em trabalho humanitário junto à fronteira síria AFP
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Junto a Deir Ezzor, Síria, em Agosto de 2013 REUTERS

Os pais de Abdul-Rahman Kassing, Peter Kassig antes de se ter convertido ao islão, divulgaram uma carta que receberam do filho em Junho, antes das decapitações de dois jornalistas norte-americanos e de dois funcionários de agências humanitárias britânicos às mãos do Estado Islâmico, na Síria.

As decapitações são filmadas e no fim tem surgido a vítima seguinte: Kassig é ameaçado de morte no final do vídeo da morte do britânico Alan Henning, publicado pelos extremistas a semana passada.

“Obviamente, estou com muito medo de morrer mas a pior parte é não saber, duvidar, ter esperanças, e questionar se deveria sequer ter esperanças”, escreve o jovem norte-americano de 26 anos do Indiana na carta aos pais. Ed e Paula Kassing explicam que decidiram divulgar as palavras do filho “para que o mundo possa entender” por que é que eles “e tantas pessoas se preocupam com ele e o admiram”.

Num vídeo em que surgem os dois, a mãe com um lenço colocado na cabeça que lhe deixa ver o cabelo, os pais agradecem “às muitas pessoas em todo o mundo que rezam por eles e apoiam a família neste período difícil” e especialmente aos que conheceram o filho e trabalharam com ele no Líbano, na Turquia ou na Síria.

Kassing, um ex-ranger que esteve no Iraque em 2007, foi para o Líbano em 2012 oferecer-se como voluntário para tratar os refugiados sírios. No mesmo ano, formou a ONG Resposta Especial de Emergência e Assistência. Com formação em assistência médica, distribuía alimentos e medicamentos mas também tratava traumatismos e formou 150 civis que passaram a fazer o mesmo trabalho.

Segundo um antigo refém do Estado Islâmico, Kassing converteu-se ao islão voluntariamente algures entre a sua captura, a 1 de Outubro, e Dezembro de 2013. O jovem estava a trabalhar na Síria e foi capturado a caminho de Deir Ezzor, no Leste do país, uma das zonas que os extremistas controlam há mais tempo. Pensa-se que estará na cidade de Raqqa, uma espécie de quartel-general que os jihadistas já têm desde o ano passado no Norte na Síria - antes de terem começado a capturar vastas zonas de território no Iraque, onde agora controlam a grande cidade de Mossul.

“Estou muito triste com tudo o que aconteceu e pelo que vocês estão a passar aí em casa”, diz Kassing aos pais. “Se eu morrer, penso que podem pelo menos apoiar-se e procurarem conforto por saberem que parti quando estava a tentar aliviar sofrimento e a ajudar os que precisam”, pede-lhes. “No que respeita à minha fé, rezo todos os dias e nesse sentido não estou zangado com a situação”, explica, antes de se despedir: “Amo-vos”.

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