A Copa dos votos

Há 16 anos que vivo longe do Brasil e não passava uma noite eleitoral no país. Confesso que assistir à contagem dos votos foi mais instigante do que acompanhar os jogos do Brasil na Copa do Mundo ou o capítulo final da novela.

Ainda não eram oito da noite quando ficou claro que Aécio Neves, do PSDB, o candidato que chegou a ter apenas 14% das intenções de votos, iria disputar a segunda volta com a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, do PT.

Os dois têm apenas oito pontos percentuais de distância (41,5% para Dilma, 33,6% para Aécio), um resultado como tudo nesta campanha, desde a morte de Eduardo Campos à entrada meteórica de Marina Silva – imprevisível. Ainda não eram oito da noite quando comecei a ouvir as buzinas a soar e a gritaria nas varandas de condomínios de classe média do Rio de Janeiro. Parecia final de Fla-Flu ou de Copa do Mundo (sem os 7-1 da Alemanha), mas o grito de guerra era outro – “Fora Dilma, Viva Aécio”.

Há duas certezas nesta noite eleitoral brasileira. A primeira é de que a oposição é maioria. E não só entre a classe média. A soma de votos de Aécio Neves e Marina Silva (com os 21% de Marina são quase 55%) superam os de Dilma Rousseff em mais de 13 pontos percentuais. Em 12 anos do Partido dos Trabalhadores no poder, nunca um candidato do partido à presidência foi para a segunda volta com uma margem tão pequena de votos. A segunda certeza? Que as sondagens nem sempre acertam. Ninguém esperava esta viragem com esta margem para o candidato do PSDB.

Em Setembro, quando Marina Silva disparou e Aécio Neves passou a ter apenas 14% das intenções de voto, uma jornalista telefonou-lhe. Ele espantou-se: “Você não se esqueceu de mim? Meu telefone não toca mais. Mas não tem problema eu pego o telefone e ligo”. E foi o que o candidato do PSDB, neto de Tancredo Neves, o Presidente que morreu antes de assumir, fez. Aguentou o momento mais difícil e mostrou uma capacidade extraordinária de reacção e mobilização. Teve o melhor desempenho no último debate. Em São Paulo, o estado actualmente mais anti-petista e o maior colégio eleitoral do país, venceu Dilma com quase 20 pontos percentuais de vantagem. Em Minas Gerais, o seu estado e o segundo colégio eleitoral, perdeu de pouco para Dilma. Já no Nordeste e Norte do país, estados onde a Bolsa Família costuma garantir a eleição do PT, Dilma disparou mas mesmo assim teve menos votos do que na última eleição.

Aécio precisa do apoio de Marina. Precisa de pelo menos uma parte dos 20 milhões de votos que a candidata do PSB teve nesta primeira volta. Precisa recuperar Minas Gerais e ampliar ainda mais a vantagem em São Paulo. Nos programas de TV, os pivôs já diziam que o arranque da campanha para a segunda volta do candidato seria em Pernambuco, no Nordeste, o estado de Eduardo Campos, que era amigo de Aécio. Sinal de que Marina o apoiará? Os comentadores brasileiros atribuíram a derrota em São Paulo a uma derrota de Lula. Serão o seu magnetismo e a Bolsa Família capazes de garantirem a vitória de Dilma?

Se o nome serve de inspiração, Aetius foi o general que unificou o caótico Império Romano mas acabou morto a mando do Imperador enciumado com medo de perder o poder. Daqui a três semanas saberemos. Eu já não estarei aqui mas até lá, em ano de Copa do Mundo, vamos ter mesmo a Copa acirrada pelos votos.

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