Há 43 estudantes desaparecidos no México e na última vez que foram vistos estavam com a polícia

Em Igualpa, a polícia municipal "está totalmente infiltrada" pelo narcotráfico, reconhece o governador de Guerrero. O presidente da câmara fugiu.

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Mãe de um dos alunos mostra cartaz com fotos dos desaparecidos Yuri CORTEZ/AFP

Onde estão os 43 estudantes universitários que desapareceram, levados em carros da polícia municipal, há mais de uma semana, após uma manifestação reprimida com grande violência na cidade de Iguala, no estado mexicano de Guerrero? Esta interrogação agigantou-se, tornou-se um escândalo nacional e foi oferecida uma recompensa de um milhão de pesos (59 mil euros) a quem forneça informações que permitam localizá-los.

Os pais desesperados dos alunos da escola de formação de professores do ensino primário de Ayotzinapa já andaram de casa em casa à procura dos seus filhos, a mostrar fotos deles. “Porque é que o Governo mata estudantes, quando os devia apoiar?”, pergunta Hilda Hernández, mãe de um dos desaparecidos, citada pelo jornal El Universal.

Os jovens desapareceram após uma manifestação contra as reformas no ensino que estão a ser muito contestadas em todo o México. Os estudantes de Ayotzinapa, que o El País diz serem muito politizados, protestavam contra uma disposição relativa à contratação de professores, que passaria a dar preferência às escolas urbanas sobre as rurais.

A associação de estudantes diz que os jovens estavam a apanhar boleia nos autocarros para voltar para a escola, onde vivem em regime de internato. “Não houve ameaças. Falámos com os motoristas e tinham concordado em levar-nos”, explicou um estudante aos media locais.

Mas a polícia municipal afirma que estavam a tentar tomar os autocarros à força e por isso agiram: dispararam contra um veículo que levava uma equipa de futebol da terceira divisão, Los Avispones, e mataram um jogador, o condutor e ainda uma mulher que seguia num táxi. Mataram também três estudantes e ficaram feridas 25 pessoas. Há relatos de que na repressão participaram também civis, homens encapuçados, possivelmente ligados ao narcotráfico, diz o El País.

Há gravações de câmaras de segurança em que se vêem dezenas de jovens a serem forçados a entrar nos veículos da polícia, relata o El Universal. Mas não há rasto do que lhes aconteceu, e isso é especialmente traumatizante na altura em que se recorda o massacre de 2 de Outubro de 1968, em que pelo menos 300 estudantes foram mortos – não se sabe ao certo quantos morreram – na Plaza de las Tres Culturas, três dias antes da abertura dos Jogos Olímpicos na Cidade do México.

A polícia federal chegou entretanto para tomar conta da situação. O Presidente, Peña Nieto, pediu ao governador de Guerrero para assumir o controlo e foram requisitadas as armas a 300 polícias locais, para apurar a sua responsabilidade. Mas o presidente da câmara de Iguala, José Luís Abarca, disse que não tinha ouvido nada, nem sabia nada do que se tinha passado. E na terça-feira pôs repentinamente um mês de licença e desapareceu com a família. Desapareceram ele e o responsável municipal pela Segurança Pública, embora a procuradoria do estado de Guerrero os tenha convocado a apresentarem-se.

O governador Ángel Aguirre Rivero (PRD, esquerda), reconheceu que a polícia municipal de Iguala está “totalmente infiltrada” por grupos criminosos que actuam na região, como os Guerreros Unidos – um dos pequenos cartéis que nasceram após a morte de Arturo Beltrán Leyva, em 2009, irmão do narcotraficante Héctor Beltrán Leyva, um dos barões da droga mais procurados, preso na quarta-feira.

A prisão de “H” – como é conhecido – resultou na revelação de que vários políticos mexicanos lhe eram próximos. A violência em Iguala pode ter alguma relação com a captura deste narcotraficante – como, ainda não é claro.

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