Os comissários a quem os eurodeputados não vão facilitar a vida

Nomeados do Reino Unido, Espanha, Hungria, França, Irlanda e Eslovénia deverão centrar as atenções nas audiências.

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O espanhol Miguel Arias Cañete tem ligações incómodas com duas empresas petrolíferas PEDRO ARMESTRE/AFP

Possíveis conflitos de interesses, autonomeações e suspeitas de apoio a medidas de restrição democrática ou discriminação serão alguns dos pontos que vão levar alguns dos comissários indigitados a ser questionados pelos eurodeputados.

Um dos nomeados em que se põe a questão do conflito de interesses com mais premência é Jonathan Hill, que vai ser questionado esta quarta-feira. O britânico trabalhou a fazer lobby para empresas da City, promovendo interesses de várias empresas de serviços financeiros como o banco HSBC, e no seu papel de comissário para os serviços financeiros será responsável por defender os cidadãos europeus face às empresas financeiras, diz o diário El País. “É como pôr a raposa a guardar o galinheiro”, comentou o alemão Sven Giegol, dos Verdes. Para tentar tornar a sua nomeação mais aceitável, parte das competências irão passar para a pasta da Justiça. Hill irá ainda ser questionado por ter uma pasta essencial ao euro e pertencer a um país que não aderiu à moeda única.

Ainda esta quarta-feira, mas da parte da tarde, surge outro potencial conflito de interesses que será abordado na sessão de Miguel Arias Cañete, o espanhol que ficará encarregado da pasta da Acção Climática e Energia. Acabou de vender as suas acções em duas empresas petrolíferas, mas a sua família mantém mais de 70% de ambas.

Segue-se ainda o húngaro Tibor Navracsics, com a pasta da Educação, Cultura, Juventude e Cidadania, do partido de Viktor Órban e muito próximo do polémico primeiro-ministro. Navracsics deverá ser questionado por exemplo pela sua participação na elaboração de uma lei dos media que corta a liberdade de imprensa, com uma autoridade de regulação politizada, por exemplo.

Na quinta-feira, Pierre Moscovici também deverá esperar algum questionamento mais acutilante. Com a pasta dos Assuntos Económicos e Financeiros, o francês deverá ser confrontado com o falhanço do seu país cumprir as metas orçamentais.

No mesmo dia, o irlandês Phil Hogan terá provavelmente de acusações de que discriminou uma família cigana enquanto esteve no Governo do seu país.

Na próxima segunda-feira, já perto do final do processo, surge um caso peculiar – a antiga primeira-ministra da Eslovénia, Alenka Bratusek, que se atribuiu o cargo de comissária a si própria sem acordo do Parlamento nacional nem do seu sucessor no Executivo. Alenka Bratusek foi nomeada para a pasta da União Energética e para ser uma das vice-presidentes.

O Parlamento Europeu, depois da vitória que foi impor ao Conselho que o Presidente da Comissão fosse o candidato do grupo que venceu as eleições para o Parlamento Europeu – Jean-Claude Juncker, antigo primeiro-ministro do Luxemburgo e líder do Eurogrupo –, está num momento de confiança. Os potenciais comissários são ouvidos individualmente mas a Comissão é depois aprovada ou reprovada no seu conjunto. O Parlamento já conseguiu, com a ameaça de veto, que alguns nomeados não chegassem a assumir a pasta – foi o caso do italiano Rocco Buttiglione, que tinha feito declarações homofóbicas, na primeira Comissão Barroso.

 
 

   

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