Chegou o dia que António Costa nunca antecipou

Certa vez afirmou “a certeza absoluta” de que nunca seria “líder do PS”. Ainda não o é, oficialmente, mas conseguiu afastar o eterno rival da liderança.

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Costa é uma “esperança” de muitos não-socialistas para convergência à esquerda Enric Vives-Rubio

Quando, com 14 anos, se fez fotografar de punho erguido em frente da sede do PS em Lisboa, iniciou uma militância partidária com quase 40 anos.

Inscreveu-se na JS e, timidamente, confessou à mãe, a jornalista Maria Antónia Palla, que “não é tão à esquerda como gostaria...”. Um pouco como Alexandre O’Neill, “ele não merece, mas vota no PS”. Contudo, no jovem António Luís Santos da Costa o gosto foi crescendo.

E a esquerda sempre o saudou, mesmo quando ele desdenhava dos termos do “debate rodoviário” sobre as guinadas que o partido devia dar do eterno centro onde o viam os seus críticos. E isso também tem uma explicação biográfica. O pai de António era um histórico militante comunista. Orlando da Costa, um dos principais nomes da segunda vaga do neo-realismo literário português, confessaria, já quando o filho era um “número dois” oficioso do Governo Sócrates, que não perdia uma intervenção de António. “Não amadureças depressa”, foi um dos últimos conselhos que lhe deu.

Orlando da Costa ouvia, de vez em quando, uns apartes sobre “lá os seus os amigos”, os militantes comunistas, mas o tom era mais carinhoso do que adversarial. E a prova disso é a alcunha com que mantinha um debate, privado, com outro comunista – este da sua idade –, Miguel Portas. Costa assinava Bernstein, em homenagem ao social-democrata que desagradava aos soviéticos.

No fundo, o ambiente de Costa – familiar, político – é naturalmente o dos grandes debates da esquerda, das desavenças às proximidades. O que o torna, aos olhos de muitos não-socialistas, uma “esperança” para um debate que desde Jorge Sampaio, há 20 anos, não se traduz em convergência.

Costa esteve com Sampaio, nessa altura. Como antes estivera nas reuniões do grupo do ex-secretariado que se reunia no sótão de António Guterres, em Algés.

Foi, aliás, por essa altura, que se zangou, pela primeira vez, com António José Seguro, a propósito da liderança da JS.

Já na altura, Costa era um número um que preferia ficar um degrau abaixo na hierarquia.

No resto, sempre foi precoce e muito autoconfiante. Desde cedo, afirmou a mãe, era ele quem preenchia os papéis e entregava na escola a matrícula. E consta que aos 12 anos liderou uma revolta escolar contra o saneamento da directora da delegação da escola Francisco Arruda, que funcionava no Conservatório de Lisboa, em pleno Bairro Alto lisboeta, onde morava.

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