Cavaco diz que Passos “prestou todos os esclarecimentos” onde devia: na AR

Chefe de Estado alega defesa do "superior interesse nacional" para não fazer comentários.

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Adriano Miranda

O Presidente da República esquivou-se a fazer apreciações sobre as consequências políticas da polémica acerca das alegadas remunerações recebidas pelo primeiro-ministro quando era deputado em exclusividade. Mas diz que, de acordo com informação que lhe “foi dada”, Pedro Passos Coelho “prestou todos os esclarecimentos” no “local certo” para o fazer: a Assembleia da República.

Questionado pelos jornalistas durante uma visita a Oliveira de Azeméis, Cavaco Silva não foi muito expansivo sobre o caso que envolve Passos Coelho, argumentando que enquanto Presidente da República não deve fazer muitos comentários sobre questões desta natureza de forma a “defender o superior interesse nacional”.

Porém, deixou algumas críticas implícitas. “Há matérias que os jornalistas, os comentadores, os politólogos podem opinar e comentar - e penso que não existe outro país no mundo, da nossa dimensão, com tantos comentadores e tantos politólogos que tudo comentam nas 24 horas do dia. Mas como Presidente da República não devo fazê-lo por forma a defender o superior interesse nacional.”

“O Presidente nunca se guia pela agenda mediática nem pela agenda dos partidos políticos. Eu estudo muito cuidadosamente todos os problemas e guio-me exclusivamente por aquilo que considero, no meu julgamento, ser o superior interesse nacional”, descreveu ainda Cavaco Silva.

Mas o chefe de Estado não quis entrar em pormenores sobre o que sabe do assunto. Questionado sobre se pediu esclarecimentos ao primeiro-ministro ou se ele lhos deu por sua iniciativa, o Presidente respondeu que as reuniões que mantêm “estão sujeitas ao sigilo”.

E não fica no ar a suspeição de que haverá algo menos claro quando não se sabem os montantes de alegadas despesas de representação que Passos Coelho terá recebido? O Presidente disse não ter “informações para responder” a tal questão.

“Mas mesmo que soubesse alguma coisa – que não sei – não lhe ia responder porque, repito, é uma matéria que deve ser tratada neste caso, pelo actual primeiro-ministro com a Assembleia da República”, vincou Cavaco Silva. E citou Passos Coelho, que disse que “há limites para a especulação que estão a fazer na comunicação social”, para evitar dar mais opiniões e recusar dizer se faria o mesmo se estivesse numa situação idêntica. “Eu não gosto de especular sobre situações com que não estou confrontado.”

Depois, voltou a insistir, com uma formulação que desde o início do Verão passou a usar com frequência quando é questionado sobre assuntos sobre os quais deveria estar informado: “A informação que me foi dada é a de que ele respondeu a todas as questões que lhe foram colocadas e deu todos os esclarecimentos.”

E Passos prestou-os no “local certo” - o Parlamento -, defendeu Cavaco Silva, lembrando que “o primeiro-ministro e o seu Governo respondem em primeiro lugar perante a Assembleia da República”, e que ao Presidente não caber fazer “apreciações sobre o Governo”.

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