Administração da ES Saúde coloca reservas à OPA do grupo Mello

Gestão liderada por Isabel Vaz avisa que a “concentração” com a empresa portuguesa, a concretizar-se, pode ter impacto a nível de concorrência e levar a despedimentos.

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Hospital da Luz é um dos activos da ES Saúde Carlos Lopes

O conselho de administração da Espírito Santo Saúde (ES Saúde) pronunciou-se nesta quarta-feira sobre a oferta pública de aquisição (OPA) concorrente lançada pelo Grupo José de Mello Saúde, considerando que o aumento do endividamento desta empresa, aliado à “actual situação financeira” do Grupo José de Mello pode dificultar a “gestão estratégica de médio e longo prazo” e a estabilização accionista. E coloca reservas em relação à concentração das empresas, admitindo mesmo que a junção poderia levar a despedimentos de trabalhadores.

Numa oferta concorrente à do grupo mexicano Ángeles, que tomou a dianteira na corrida pela ES Saúde ao oferecer 4,3 euros por acção, o grupo Mello Saúde propôs pagar mais dez cêntimos, um preço entretanto ultrapassado por uma nova oferta dos mexicanos (4,5 euros) e por uma nova movimentação no mercado, com a Fidelidade a lançar mais uma OPA concorrente (4,72 euros).

No caso dos Mello, um terço do dinheiro necessário para suportar a oferta vem de capitais próprios e dois terços através de financiamento bancário, suportado num consórcio liderado pelo Santander Totta.

Outro ponto para o qual a equipa executiva da ES Saúde chama a atenção tem a ver com eventuais questões de concorrência, estando em análise na Autoridade da Concorrência (AdC) o movimento de concentração das duas empresas, já que a junção resultaria numa “alteração na estrutura do mercado de prestação de cuidados de saúde privados em Portugal”.

Este movimento, refere a administração presidida por Isabel Vaz, pode ter impacto nos accionistas quer “ao nível do actual cenário de exercício de liberdade de escolha em relação às alternativas disponíveis, quer de entidades empregadoras no caso dos trabalhadores, quer de prestadores de cuidados de saúde no caso dos clientes/pacientes”; por outro lado, acrescenta, haverá impacto para o mercado segurador e dos sistemas de saúde privados.

A administração lembra ainda que o valor posto em cima da mesa pelos Mello já foi ultrapassado, dizendo ainda assim que os então 4,4 oferecidos pode “não reflectir na totalidade um potencial prémio de controlo” e “o benefício das potenciais sinergias” da junção das duas empresas, actualmente concorrentes. A ES Saúde é dona de 18 unidades, entre as quais o Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, que gere em regime de parceria público-privada (PPP) e onde vai buscar cerca de 20% das receitas.

“A combinação de negócios poderá redundar, no curto prazo, na duplicação de postos de trabalho sobretudo do centro corporativo dos grupos, bem como de postos de trabalho de algumas funções administrativas e/ou de suporte às unidades de saúde e de quadros executivos nas unidades de saúde”, alerta, vincando que os níveis de crescimento do novo grupo poderiam não ser suficientes para suportar essas “duplicações”. Segundo a administração, isso poderia “conduzir a reduções de postos de trabalho” e, para quem ficasse, a uma “inerente “despromoção” profissional”.

Entretanto, já começou a contar período da oferta lançada elos mexicanos. O preço foi revisto em alta pelo grupo Ángeles. E, como mandam as regras do mercado, a administração da ES Saúde veio entretanto pronunciar-se sobre o novo valor oferecido.

Num comunicado separado, a gestão de Isabel Vaz considera os 4,5 euros por acção um valor “aceitável”, o que já dizia em relação aos 4,3 euros propostos inicialmente. Nessa altura, considerou ainda assim que o preço não reflectia a totalidade “prémio de controlo” da ES Saúde em caso de a OPA vingar (a proposta avaliava a empresa para 410 milhões de euros). Depois de o grupo Ángeles ter subido a parada (avaliando a empresa em torno de 430 milhões), a administração diz que o novo preço já fica mais próximo do “potencial prémio de controlo”.

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