ES Saúde: nunca uma empresa cotada teve tantas OPA concorrentes

Através da Fidelidade, os chineses da Fosun entraram na corrida à ES Saúde e oferecem 4,72 euros por acção, mais 10% do que o valor da primeira proposta dos mexicanos. Mello mantém-se na corrida.

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A Fosun, liderada por Guo Guangchang, ganhou a compra da Fidelidade no início do ano Daniel Rocha

Seja quem for o vencedor da corrida à Espírito Santo Saúde (ES Saúde), a operação já fica para a história da bolsa portuguesa como o negócio que teve mais Ofertas Públicas de Aquisição (OPA) a concorrer entre si. A entrada em cena dos chineses da Fosun, através da Fidelidade, aumentou para três os grupos interessados, juntando-se aos mexicanos da Ángeles e à José de Mello Saúde.

Na terça-feira, os donos de 80% do grupo Fidelidade entraram com estrondo, ao oferecer, de acordo com o anúncio preliminar, 4,72 euros por acção, mais 22 cêntimos do que a última oferta apresentada pela Ángeles. A 19 de Agosto, na primeira investida, os mexicanos tinham oferecido 4,30 euros por título, valor que subiu para 4,40 euros quando a José Mello Saúde avançou a 11 de Setembro. Oito dias depois os mexicanos reagiram, subindo a parada para 4,50 euros.

Entre a primeira oferta da Ángeles e a da Fosun, o valor por acção já disparou 10%, colocando a ES Saúde a valer 450,9 milhões. Neste momento, apenas a oferta dos mexicanos está registada oficialmente e o relógio já começou a contar. Para se manterem na corrida, a José de Mello Saúde e a Fosun/Fidelidade têm de conseguir registar as ofertas até sexta-feira.

A Fidelidade, onde a CGD ainda detém 20% (incluindo os 5% que ainda não foram vendidos aos trabalhadores) deverá conseguir cumprir o calendário, até porque não vai pedir o aval prévio à Autoridade da Concorrência. A empresa terá ainda de enviar o prospecto final à comissão executiva da ES Saúde, presidida por Isabel Vaz que, por sua vez, deverá pronunciar-se de forma rápida e permitir o registo atempado da operação.

A participação do banco público nesta operação tem uma certa ironia, já que a CGD vendeu o negócio hospitalar, a HPP, em 2012. Agora, pode voltar a entrar no sector, mesmo se quem toma neste momento as decisões são os chineses. Ao mesmo tempo, é o banco de investimento do Estado, a Caixa BI, que está a aconselhar o concorrente José de Mello Saúde.

No comunicado publicado pela CMVM, a Fidelidade põe como condição para que a OPA se efective a obtenção de 50,1% das acções e dos direitos de voto. Ou seja, pretende ficar com uma posição maioritária, tal como sucede com a Ángeles e com a José de Mello Saúde. Independentemente das compras em bolsa, o negócio ficará concluído com a posição da Rioforte. Em processo de gestão controlada no Luxemburgo, a empresa do universo Grupo Espíríto Santo detém 55% da Espírito Santo Health Care Investments, que, por sua vez, detém 51% da ES Saúde.

A Fidelidade compromete-se ainda a prosseguir a actividade empresarial desenvolvida pela ES Saúde, “mantendo as grandes linhas estratégicas definida pelo conselho de administração e apoiando a expansão da actividade”. A seguradora entende que, a concretizar-se, o negócio pode “trazer sinergias e valor acrescentado para o grupo” de que faz parte, sem avançar detalhes. Recentemente, a Fosun, presidida por Guo Guangchang e com uma capitalização bolsista de 6700 milhões, comprou 20% da seguradora Ironshore por cerca de 346 milhões.

Por parte do grupo Mello, a empresa notificou a operação à Autoridade da Concorrência, estando agora num compasso de espera enquanto o regulador não se pronuncia. Este dado pode jogar contra si, impedindo o registo atempadamente. Fonte oficial da CMVM afirmou apenas que a oferta da Mello Saúde ainda não reúne as condições legais que permitem o seu registo. Já fonte oficial da empresa diz que mantém “todo o empenho na operação” e que está a “interagir com as autoridades reguladoras”.

O registo de uma oferta concorrente fará prolongar o calendário de duas semanas que começou a contar na segunda-feira, dando mais tempo para se decidir o vencedor e novas oportunidades de revisão do valor da oferta. Na terça-feira, os títulos subiram 3,83%, encerrando a valer 4,88 euros, 16 cêntimos acima do preço oferecido pela Fidelidade. Uma revisão de preço teria de subir para os 4,82 euros, ou mais. Desde a entrada em bolsa, em Fevereiro, as acções já subiram mais de 50%. Para o analista Tiago Veiga Anjos, do BPI, “o mercado parece estar a dizer que poderão existir novas revisões de preços”.

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