Indústria espacial europeia terá de se adaptar ao mundo dos voos low cost

Empresa norte-americana SpaceX está a alterar regras do jogo da indústria espacial com lançamentos de foguetões mais baratos. Agência Espacial Europeia vai decidir em Dezembro futuro dos foguetões Ariane.

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O Ariane-5 é um dos foguetões mais seguros, mas o custo de lançamento é alto Jody Amiet/AFP (arquivo)

Até ao final do ano são estimados mais de 21 lançamentos espaciais, entre satélites de comunicação, envio de mantimentos e de astronautas para a Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em inglês), experiências e missões secretas. Alguns lançamentos ainda não têm um dia concreto para acontecer, de acordo com o site Spaceflightnow.com, mas há datas marcadas até 13 de Junho de 2015, quando um foguetão Falcon 9, da empresa norte-americana de tecnologia espacial SpaceX, enviar uma cápsula Dragon com mantimentos até à ISS.

Neste calendário do trânsito espacial, talvez não transpareça a mudança em curso que está a acontecer nesta indústria, motivada principalmente pelo aparecimento da SpaceX em 2002, que trouxe consigo o sonho do seu fundador, Elon Musk, de diminuir o custo do lançamento de foguetões e ajudar, no futuro, a humanidade a chegar a outros planetas. A empresa norte-americana conseguiu lançamentos que custam 60 milhões de dólares (cerca de 47 milhões de euros) para uma carga máxima de 13,15 toneladas destinada a órbitas próximas da Terra, como a órbita da ISS.

É neste contexto de mudança que a Arianespace e a Europa terão de se adaptar, se querem continuar a liderar o lançamento de satélites. Aquela empresa francesa, nascida em 1980, explora e comercializa os foguetões desenvolvidos sob égide da Agência Espacial Europeia (ESA) e nasceu para dar à ESA a autonomia de acesso ao espaço. Os lançamentos são feitos a partir do Centro Espacial da Guiana, na Guiana Francesa.

A empresa tem 21 accionistas de dez países europeus, incluindo os franceses Airbus, que se desconhece quanto capital têm da empresa, a Safran, empresa aeroespacial com 10,57% das acções, e o Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES, sigla em francês), a agência espacial francesa, que detém 34,68% do capital. Há duas empresas alemãs que detêm 19,85% das acções, além de empresas italianas, belgas, holandesas ou espanholas. Não há capital português.

A Arianespace detém 60% do mercado de lançamento de satélites, o equivalente a 4,5 mil milhões de euros, segundo a empresa. O foguetão Ariane-5, capaz de levar cargas de 21 toneladas para as órbitas próximas da Terra, é o peso pesado da frota de três foguetões que a empresa utiliza, e tem das melhores taxas de sucesso, o que o torna um dos aparelhos mais seguros. Dos 75 lançamentos, incluindo o da sonda Roseta, só teve quatro falhanços desde o início das operações, a 4 de Junho de 1996.

As peças do foguetão do Ariane são construídas por várias empresas europeias. Isto porque nada no foguetão é reutilizável, o que o torna mais caro. Em Fevereiro, o ex-presidente da empresa Jean-Yves Le Gall, que agora dirige o CNES, disse ao senado francês que um lançamento do Ariane-5 rondava os 100 milhões de euros e que a SpaceX tinha actualmente a vantagem nos preços que pedia.

Por isso, desde 2012 que a ESA está à procura de um substituto mais barato para o Ariane-5. Até Junho, os planos para esta substituição passavam por um foguetão de transição, chamado Ariane-5 ME, que iria começar a trabalhar em meados de 2018, ao qual iria suceder o Ariane-6, em 2021. Esta ideia reunia o consenso da França e da Alemanha.

Mas em Junho, a Airbus e a Safran apresentaram por iniciativa própria um projecto para a construção de dois Ariane-6, já para 2019. Uma versão do foguetão destinada a satélites de comunicação até 11 toneladas, a um preço de 90 milhões de euros o lançamento. A outra versão do Ariane-6 para satélites de cinco toneladas, a 75 milhões de euros, segundo o jornal francês Le Monde.

A construção dos novos foguetões seria um empreendimento conjunto das duas empresas, que já estão a juntar os seus sectores espaciais num só. Ao mesmo tempo, o projecto da Airbus e da Safran passaria por comprar as acções da Arianespace detidas pela agência espacial francesa, retirando o capital público e privatizando completamente a empresa.

O futuro dos foguetões só será decidido a 2 de Dezembro, numa reunião no Luxemburgo dos ministros de Defesa dos países-membros da ESA. Para o avanço do Ariane-5 ME será necessária a injecção de 1,2 mil milhões de euros por parte da ESA, segundo o site noticioso Space News. Mas se os Ariane-6 da Airbus e da Safran avançarem, o seu custo para a ESA será de 2,3 mil milhões de euros entre 2015 e 2025, segundo o jornal francês La Tribune.

O que quer que aconteça na Europa, Elon Musk quer continuar a inovar nos seus foguetões americanos. Um dos objectivos da SpaceX para tornar os Falcon mais baratos é a reutilização dos foguetes reforçadores, usados na primeira fase do lançamento do Falcon Heavy – o próximo foguetão da empresa que vai começar a se testado em 2015.

Na semana passada, a SpaceX e a Boeing conseguiram o contrato com a NASA para colocarem astronautas no espaço, um objectivo para que os Estados Unidos deixem de estar dependentes da Rússia no envio de astronautas para a ISS. O contrato foi de 2,6 mil milhões de dólares com a SpaceX e 4,2 mil milhões de dólares com a Boeing, e servirá para finalizar a construção das cápsulas de transporte que deverão estar prontas já em 2017.

O acordo demonstra a confiança da agência espacial na empresa de Elon Musk. “A SpaceX está profundamente honrada pela confiança dada pela NASA”, disse Elon Musk, num comunicado, citado numa notícia da revista Forbes. “É um passo vital no caminho que no final vai levar-nos às estrelas e tornar a humanidade numa espécie multi-planetária.”

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