Autarca de Vidigueira acusa Alto Comissariado de abandonar ciganos desalojados

Famílias desalojadas em Junho continuam à espera de solução

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O presidente da Câmara de Vidigueira acusou esta quinta-feira o Alto Comissariado para as Migrações (ACM) de ter abandonado as duas famílias ciganas desalojadas, após a autarquia ter demolido o parque onde viviam na vila, mas a instituição nega. "O que importa realçar é o abandono destas famílias por parte do ACM", o qual, desde uma reunião sobre o caso das duas famílias que decorreu na autarquia, no passado dia 17 de Julho, "nunca mais deu sinais de vida e lavou as mãos como Pilatos deste assunto", disse Manuel Narra à agência Lusa.

Segundo o autarca, o grupo de trabalho criado na reunião, para dialogar com representantes das duas famílias ciganas, "nunca mais reuniu, porque o chefe de fila do grupo, que era encabeçado pelo ACM, pura e simplesmente desapareceu". O autarca falava à Lusa após ter conversado com representantes das duas famílias ciganas, que hoje se concentraram junto à Câmara de Vidigueira com o objectivo de falar com Manuel Narra, o que conseguiram.

"Já conversei com eles e estamos [autarquia] a tentar resolver o assunto", disse o autarca, escusando-se a prestar mais explicações. Confrontado pela Lusa, o Alto-Comissário para as Migrações, Pedro Calado, disse que as acusações de Manuel Narra são "extemporâneas e de quem está a tentar encontrar soluções fora para um problema que tem em casa".

Segundo Pedro Calado, o autarca, "por sugestão do ACM" na reunião a 17 de Julho, decidiu criar o grupo de trabalho, constituído por representantes de várias entidades. "Logo no dia a seguir, um representante do ACM foi com a vice-presidente da Câmara de Vidigueira falar com as famílias e fizeram o combinado na reunião", ou seja, "um diagnóstico das situações de maior vulnerabilidade social das famílias e uma análise das possibilidades de encontrarem soluções habitacionais", explicou.

No final do dia, contou Pedro Calado, a vice-presidente da autarquia "disse que não havia nenhuma solução possível que não fosse o alojamento temporário". No passado dia 21 de Julho, "face à emergência social das famílias", que, na altura, "tinham um surto de sarampo em 25 crianças e uma senhora com cancro que precisava de apoio e estava a dormir ao relento, o ACM falou com a Cruz Vermelha Portuguesa, que, a custo zero, se disponibilizou para montar um acampamento de urgência na Vidigueira com todo o apoio necessário às famílias".

Segundo Pedro Calado, "a situação foi devolvida" a Manuel Narra, que lhe disse que "a autarquia não tinha um terreno, mas alguma entidade privada poderia eventualmente ceder um terreno" para se montar o acampamento. Neste sentido, Pedro Calado disse que perguntou a Manuel Narra se convocaria uma reunião do Conselho Local de Acção Social com entidades privadas para ver se alguma teria um terreno para se montar o acampamento, mas o autarca "disse que não".

A "vontade e a capacidade" do ACM "de mediar o problema" com a Câmara de Vidigueira "terminou a partir do momento" em que Manuel Narra "decidiu boicotar a única solução viável" para as famílias ciganas e "a custo zero para a autarquia". As duas famílias, que, "lamentavelmente, continuam a viver ao relento", disse Pedro Calado, apresentaram uma queixa na Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial contra Manuel Narra, porque "acham que estão a ser altamente discriminadas".

As duas famílias, naturais de Vidigueira, "estão desesperadas e fartas de viver ao relento nos arredores da vila e precisam de casas para viver e de uma residência fixa para os filhos poderem ir à escola", condição para continuarem a receber o Rendimento Social de Inserção, disse à Lusa Prudêncio Canhoto, representante da comunidade cigana.

No passado dia 13 de junho, as duas famílias, num total de cerca de 70 pessoas, após uma rixa entre elas, abandonaram as instalações do parque de estágio que existia em Vidigueira e onde tinham sido alojadas pela autarquia. Dias depois, quando regressaram ao parque, as duas famílias repararam que a Câmara de Vidigueira tinha demolido as instalações onde viviam sem as avisar e acusaram a autarquia de racismo.

Em declarações à Lusa, em Julho, Manuel Narra rejeitou a acusação de racismo, frisando que a atitude da autarquia sempre foi de "discriminação pela positiva". Segundo o autarca, as duas famílias foram instaladas no parque de estágio em 2012, quando a câmara as retirou de casas improvisadas de madeira e chapa onde viviam nas traseiras das ruínas do castelo medieval de Vidigueira.

Manuel Narra explicou que os confrontos, com tiros, ocorridos durante a rixa, deixaram "um rasto de destruição" e, depois da saída das famílias, deu ordem para demolir as instalações do parque, cumprindo uma ordem da Inspecção-geral das Finanças por a construção estar ilegal.

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