Merkel diz que ataques anti-semitas são ataques contra a Alemanha

Chanceler alemã discursou numa manifestação para denunciar aumento de crimes de ódio contra judeus na Europa.

Foto
Merkel discursa frente a um painel onde se lê: "Ergue-te! Ódio aos judeus nunca mais" John Macdougall/AFP

Angela Merkel não costuma participar em manifestações, mas neste domingo a chanceler alemã quebrou o hábito para estar presente numa concentração em Berlim convocada para denunciar o aumento do anti-semitismo na Europa. “Quem atacar alguém por usar uma kipá está a atacar-nos a todos. Quem destruir um túmulo judeu está a prejudicar a nossa cultura. Quem atacar uma sinagoga está a atacar as fundações da nossa sociedade livre”, afirmou.

A manifestação convocada pelo Conselho Central de Judeus na Alemanha aconteceu num lugar simbólico, frente à Porta de Brandemburgo e a poucas centenas de metros do Memorial do Holocausto, e juntou milhares de pessoas – cinco mil segundo a polícia –, entre elas Merkel, o Presidente alemão, Joachim Gauck, ministros e representantes de quase todas as tendências políticas.

Todos juntos para repudiar as dezenas de ataques que nos últimos meses – na Alemanha, mas também em França, Itália e Reino Unido – visaram directamente judeus. Crimes de ódio que já existiam mas que se agravaram com a ofensiva, neste Verão, do Exército israelita contra a Faixa de Gaza em resposta ao disparo de rockets contra o seu território.

Em muitas manifestações de apoio aos palestinianos foram gritados palavras de ordem anti-semitas, embora, ao contrário de França, os protestos tenham terminado sem violência. Certo é que os incidentes se têm repetido nas ruas: em Julho bombas incendiárias foram lançadas contra uma sinagoga na cidade de Wuppertal (Oeste) e um homem que usava kipá (solidéu) foi espancado numa rua de Berlim. Só nesse mês, as autoridades alemãs registaram 131 ataques anti-semitas (entre grafitis escritos nas paredes a insultos a judeus), num aumento que acompanha o de outros países.

“Que haja pessoas na Alemanha que são ameaçadas ou insultadas por causa da sua aparência judia ou pelo seu apoio a Israel é um escândalo que não podemos aceitar”, afirmou a chanceler, dizendo que o país, pelo seu passado recente, “tem o dever nacional e cívico de combater o anti-semitismo”.  

Dos mais de 500 mil judeus que viviam na Alemanha em 1933, ano em que Adolf Hitler subiu ao poder, restavam apenas 15 mil quando em 1950 voltaram a ser feitos censos. Após a queda do Muro de Berlim, em 1989, a Alemanha ofereceu aos judeus dos países da ex-URSS a possibilidade de se instalarem no país e são já hoje 200 mil os que ali vivem – a terceira maior comunidade judaica na Europa, depois de França e do Reino Unido.

Mas hoje muitos dizem viver com medo. “Viemos com grandes esperanças e sonhos. Mas a realidade não corresponde ao que imaginávamos”, disse à AFP Eduard Shechter, judeu oriundo da ex-URSS. Merkel afirmou que o renascimento da comunidade judaica na Alemanha “é algo parecido a um milagre” e disse sentir-se “magoada quando ouve que há pais que se perguntam se será seguro criar aqui os seus filhos”.

Sugerir correcção
Comentar