Vítor Bento demite-se da presidência do Novo Banco

Banco de Portugal diz que nova equipa será conhecida "logo que concluídos os procedimentos prévios exigíveis”.

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Vítor Bento tinha saído da SIBS para liderar o BES, antes da intervenção do Banco de Portugal Nuno Ferreira Santos

O presidente executivo do Novo Banco, Vítor Bento, o seu vice-presidente, José Honório, e o administrador financeiro, João Moreira Rato, apresentaram a sua demissão.

"Confirmamos que durante esta semana comunicámos ao Fundo de Resolução e ao Banco de Portugal a intenção de renunciar aos cargos desempenhados na administração do Novo Banco, dando tempo para que pudesse ser preparada uma substituição tranquila", afirmam os gestores num comunicado conjunto enviado este sábado.

Os três gestores defendem que não saem "em conflito com ninguém, mas apenas porque as circunstâncias alteraram profundamente a natureza do desafio com base no qual aceitáramos esta missão em meados de Julho".

De seguida, fazem um balanço do seu curto mandato, afirmando terem posto em marcha "as acções necessárias para a normalização e melhoria do funcionamento" do Novo Banco, que herdou os "bons activos" do BES, e de terem lançado "a elaboração de um plano de médio prazo".

Ao mesmo tempo que falam na elaboração dessa estratégia "a médio prazo", acrescentam que já foi "encetado um processo para a rápida venda do banco, gerido pelo Fundo de Resolução e pelo Banco de Portugal". Assim, dizem, entenderam "ser agora oportuno passar o testemunho a uma outra equipa de gestão".

Por fim, concluem o comunicado com uma frase onde asseguram acreditar "que o Novo Banco é uma grande instituição, com gente muito dedicada, clientes leais e uma actividade de negócio que pode dar um importante contributo para a recuperação da economia portuguesa".

Por parte do Banco de Portugal, que enviou a meio da tarde um comunicado, a instituição liderada por Carlos Costa diz que o novo conselho de administração do Novo Banco “será conhecido logo que concluídos os procedimentos prévios exigíveis”, sem adiantar quaisquer datas.

No mesmo comunicado, o regulador insiste na ideia de uma solução rápida para a instituição financeira. “Ao longo de todo este processo, o Fundo de Resolução e o Banco de Portugal têm tido como prioridade salvaguardar o interesse dos clientes do Novo Banco, dos seus trabalhadores e do sistema financeiro. Tal exige que num prazo tão curto quanto razoavelmente exequível, o Novo Banco passe a contar com uma estrutura accionista estável e que garanta o desenvolvimento de um projecto criador de valor”, diz o banco central.

No documento enviado às redacções, o regulador, a par do Fundo de Resolução (accionista da instituição), diz agradecer “a todos os elementos do conselho de administração em funções a disponibilidade demonstrada para assegurar a estabilidade da instituição nas primeiras semanas após a resolução do BES”. “O Dr. Vítor Bento, o Dr. José Honório e o Dr. João Moreira Rato foram cooptados como administradores do BES com um projecto que foi invalidado pela resolução do banco. Ainda assim, aceitaram continuar na administração do Novo Banco, apesar do diferente mandato”, sublinha o comunicado.


Trabalhadores contra "venda apressada"
A notícia da saída dos principais gestores do Novo Banco foi avançada este sábado pelo Expresso. De acordo com o semanário, o Banco de Portugal estará já a procurar uma nova equipa para liderar o banco resultante da intervenção de emergência no BES, no princípio de Agosto. Essa equipa, escreve ainda o semanário, poderá ser conhecida ainda durante este fim-de-semana.

O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que participaram hoje, em Milão, na reunião informal do Ecofin, recusaram falar aos jornalistas sobre a situação no banco.

Para o coordenador da Comissão de Trabalhadores do Novo Banco, João Matos, uma venda apressada será o fim da instituição. "O banco precisa de estabilidade e não se podem baixar os braços. Estamos mais unidos do que nunca para salvar a instituição. Uma venda apressada será o fim do banco e nenhum de nós quer isso", disse João Matos à agência Lusa.

Para João Matos, que falou à Lusa antes do comunicado oficial da demissão ser conhecido, a saída da equipa liderada por Vítor Bento não o surpreenderia. "Sabíamos que o trabalho da administração estava praticamente sem autonomia. Não pensávamos era que fosse tão rápido", afirmou ainda João Matos

O Banco de Portugal interveio no BES a 3 de Agosto, para evitar o seu colapso descontrolado, repartindo-o em duas instituições. O Novo Banco, que está num processo de mudança de imagem da instituição, ficou com os trabalhadores, agências, contas e vários activos considerados de qualidade, enquanto no antigo BES ficaram os activos problemáticos. 

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