Agora já vi tudo

Todos os irmãos, amigos e casais têm códigos.

Todos os irmãos, amigos e casais têm códigos. Com o meu irmão Paulo quando aparecia um parolo dizíamos "word" porque era "parole" em francês. Se passasse um grande parolo por nós e um de nós comentasse "what a word!" parecia que estávamos a elogiar uma palavra.

Às vezes, preguiçosamente, nem sequer há códigos. No Bairro Alto dos anos 80 e 90 usava-se a palavra "imprint" para designar as pessoas tão traumaticamente feias que bastava olhar para elas uma vez para ficar com a imagem delas para sempre queimada nas nossas retinas, numa espécie de choque pré-traumático. "Atenção: imprint!" era dito como aviso, à maneira dos inimigos alemães do luso-inglês Major Alvega que exclamavam sempre, antes de serem exterminados por um avião Spitfire: "Achtung!"

Desde que casei com a Maria João temos arranjado maneiras de falarmos em código. A netlingo.com e os acrónimos do Urban Dictionary são por de mais conhecidos. Não se pode arriscar.

Cada casal tem códigos próprios, preparados para mais ninguém perceber. O nosso, depois de muitas tentativas vãs, é "NISE", pronunciado como "nice", mas sendo o acrónimo, perante alguma coisa ou pessoa extraordinariamente horrível, de "Now I've Seen Everything".

É um grande erro pensar que a pessoa que passa fica elogiada pelo comentário, ouvido como "nice". O que mais acontece é sermos tomados por sarcásticos boçais. Daqueles que dizem "nice" quando querem dizer "awful".

É preciso falar e ouvir bem.

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