BCE sempre um passo atrás, em relação aos outros bancos centrais

Reserva Federal Americana, Banco de Inglaterra ou Banco Central do Japão não hesitaram no recurso às medidas não convencionais para acordar a economia.

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Ralph Orlowski/Reuters

Há duas semanas, a revista The Economist, num artigo sintomaticamente intitulado “Be Bold, Mario” (Sê corajoso, Mario), referia que o Banco Central Europeu (BCE) esteve muito bem na resposta à crise financeira que se seguiu à falência do Lehman Brothers. Mas, depois, “perdeu o pé”. Ou antes, perdeu a iniciativa, enquanto as autoridades monetárias das outras potências económicas avançavam com as chamadas medidas não convencionais para dar um empurrão à retoma.

Numa primeira fase, o BCE não teve dúvidas em avançar com cortes repetidos das suas taxas de referência e foi cedendo liquidez ao sistema financeiro que estava a ser muito afectado pelos impactos da crise financeira mundial e, posteriormente, pelas consequência da crise da dívida na zona euro. Mas quando se exigiam medidas que funcionassem como estímulos para dinamizar a actividade económica, o banco pôs-se de lado.

Há duas razões que podem ajudar a explicar a diferença de comportamento entre o BCE e os seus parceiros dos Estados Unidos, de Inglaterra ou do Japão. É que a autoridade monetária europeia tem um mandato muito centrado na estabilidade dos preços, trabalhando para que a inflação se mantenha abaixo, mas muito perto, dos 2%. A Fed, o Banco de Inglaterra e a autoridade monetária nipónica dispõem de uma liberdade de movimentos muito mais ampla.

Por outro lado, a Alemanha sempre se opôs a que o BCE colocasse no terreno - como os seus parceiros fizeram, há já vários anos - um programa de quantitative easing, que consiste em colocar as máquinas de impressão de notas a funcionar e ir ao mercado comprar títulos do Tesouro na posse dos investidores, que podem reorientar esse dinheiro para a economia.

A Reserva Federal norte-americana foi a primeira entidade a avançar com um programa deste tipo, há cinco anos. Começou a comprar 85 mil milhões de dólares em títulos por mês e só este ano começou a reduzir o ritmo de compras, prevendo-se que, até ao final do ano, o programa chegue ao fim. O facto é que a taxa de desemprego caiu de níveis ligeiramente superiores a 10%, em 2010, para cerca de 6% actualmente. E o Produto Interno Bruto (PIB) já está uns 7% acima do que valia antes da crise de 2008.

Estudos recentes mostram, por outro lado, que os cerca de 325 mil milhões de libras que o Banco de Inglaterra injectou na economia terão potenciado um acréscimo de 50 mil milhões de libras na formação do PIB, o que fez com que a taxa de desemprego caísse para pouco mais de 7%, o que compara com os 11,5% que persistem na zona euro.

No Japão, para combater uma década de estagnação e de descida dos preços, o banco central também recorreu à artilharia pesada há pouco mais de um ano. Neste caso, ainda não há profundidade histórica que permita grandes conclusões, mas há sinais de retorno a um cenário de crescimento na terceira maior economia do mundo.

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