Bloco operatório do Hospital de Santarém terá “intervenção profunda” em 2015

Autarcas da região criticam silêncio do Ministério da Saúde e falam numa situação "insustentável".

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Fontes que pediram o anonimato disseram à Lusa que a lista de espera para cirurgia está "descontrolada", sobretudo em ortopedia PÚBLICO

O bloco operatório do Hospital de Santarém vai ser alvo de uma "intervenção muito profunda" que obrigará ao seu encerramento total durante 120 dias, previsivelmente nos primeiros meses de 2015, disse nesta quinta-feira à Lusa fonte oficial da Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo.

Em resposta às questões colocadas pela Lusa na sequência da denúncia de autarcas, utentes e profissionais de saúde sobre o funcionamento deficiente deste serviço, a ARS admite "algum condicionamento" do Bloco Operatório Central (BOC) do Hospital de Santarém no mês de Agosto "por razões climatéricas".

Várias fontes disseram à Lusa que o deficiente funcionamento do sistema de Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado (AVAC), que data da construção do hospital, em 1985, gera condições ou de excesso de secura (com risco de incêndio) ou de humidade (com risco de acidentes eléctricos e infecções). Esta situação, que se verifica desde o Inverno passado e se agravou neste mês de Agosto, tem obrigado ao adiamento ou transferência de cirurgias.

A ARS assegura que os adiamentos verificados "foram por alguns dias" e "estão já resolvidos, ou em resolução no caso da ortopedia, com a utilização de tempos operatórios cedidos pelo Centro Hospitalar do Médio Tejo".
"Apenas há a registar a transferência de um doente, com um quadro clínico muito urgente, e que podia ter ocorrido em quaisquer outras circunstâncias", afirma.

A ARS-LVT garante que até 31 de Julho "não ocorreram adiamentos de cirurgias para além do normal" e que nos primeiros sete meses do ano até se realizaram mais 382 intervenções que em igual período de 2013, tendo havido uma redução do tempo de espera em 55 dias. Contudo, admite, "existe efectivamente um problema técnico no BOC que está a ser gerido de acordo com as circunstâncias e que passará por uma intervenção muito profunda, que implicará o encerramento total durante cerca de 120 dias".

Esse problema, assegura, "não constitui uma obstrução permanente ao funcionamento do BOC, ocorrendo apenas em condições muito adversas de excesso de humidade e baixas temperaturas, em simultâneo".

Segundo aquela entidade, está em curso "um projecto de intervenção de remodelação, requalificação e modernização dos Blocos Operatórios, numa dimensão estrutural que os garanta ao melhor nível, para os próximos 25 anos", num investimento estimado em dois milhões de euros que "tem financiamento assegurado".

"A dificuldade e a complexidade da intervenção, a exigir o máximo de ponderação e rigor, resultam da natureza das instalações, da sua localização no interior do Hospital e do risco de perturbação de outros serviços, na medida em que se trata da demolição e reconstrução de infra-estruturas, e ainda da garantia de execução no tempo previamente estabelecido e sem qualquer desvio orçamental".

Segundo a ARS-LVT, "para que o BOC possa ser encerrado durante 120 dias já existe um plano de contingência com a criação de condições temporárias que garantam internamente o máximo de capacidade instalada alternativa, possível", permitindo a utilização do Bloco de Cirurgia de Ambulatório, as salas operatórias do Serviço de Urgência, do Bloco de Partos e do Ambulatório Cirúrgico.

"Complementarmente, para a actividade que não puder ser assegurada no Hospital, será encontrado, junto dos hospitais da região, o apoio que for julgado necessário para responder às necessidades, esperando-se que corresponda a menos de 10% da actividade operatória", acrescenta.

Situação "insustentável"
Para o presidente da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo, Pedro Ribeiro (PS), a situação do bloco operatório do Hospital de Santarém é mais um dos sintomas de que esta unidade está a chegar a um "ponto insustentável".

Pedro Ribeiro disse não compreender a ausência de resposta do Ministério da Saúde ao pedido de diálogo feito há mais de um mês pelos autarcas da região. Também o presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves (PSD), na reunião do executivo desta semana, criticou o ministro Paulo Macedo por não responder à carta que lhe enviou há duas semanas, a pedir uma intervenção urgente.

"Entendemos que existam assuntos que demoram a ser resolvidos, mas quando se trata da vida das pessoas não aceitamos que não haja resposta. Se alguma cirurgia tiver que ser interrompida a meio ou alguém que devia ser operado com urgência morrer pergunto de quem é a culpa", declarou Pedro Ribeiro. "Se a culpa também aqui é da 'troika', então que sejam condenados por homicídio por negligência", acrescentou, frisando que uma situação como a que se arrasta no Hospital de Santarém "tem que ter consequências e responsáveis".

O autarca avisa que o hospital não pode correr o risco de ficar sem emergência médica e questiona se a degradação a que se assiste no Serviço Nacional de Saúde visa apenas beneficiar o sector privado. "Se não há dinheiro, verifiquem, e expliquem, de onde vem o dinheiro que entra em grupos como a Espírito Santo Saúde ou a Mello Saúde. Se essa é a opção [do Governo] então digam clarinho", declarou.

Fontes que pediram o anonimato disseram à Lusa que a lista de espera para cirurgia no Hospital de Santarém está "descontrolada", sobretudo em ortopedia, sendo a gestão do Bloco Operatório feita dia-a-dia, depois de analisadas as condições das salas. A prioridade está a ser dada aos doentes com tumores, disse uma das fontes, que classificou a situação como "caótica", frisando que, depois das situações registadas no final de 2013, tinha ficado a convicção de que o bloco entraria em obras este Verão.

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