Zaha Hadid processa a revista New York Review of Books por difamação

Arquitecta diz que crítico da revista dá a entender que Hadid não se preocupa com as mortes de trabalhadores na construção dos estádios no Qatar. Crítico já pediu desculpa.

Arquitecta acusa a revista de atentar contra o seu bom nome e reputação
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Arquitecta acusa a revista de atentar contra o seu bom nome e reputação AFP
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Imagem digital do estádio projectado por Hadid AFP

A arquitecta iraquiano-britânica processou a lendária revista New York Review of Books, acusando-a de passar uma imagem errada sua. Zaha Hadid acusa a revista norte-americana de escrever num artigo que a arquitecta não se preocupa com as mortes dos trabalhadores no Qatar, a propósito do Mundial de futebol que aquele país recebe em 2022 e para o qual a arquitecta desenhou o estádio de Al Wakrah.

Um dos nomes mais conceituadas no mundo da arquitectura, Zaha Hadid acusa a New York Review of Books de difamação ao insinuar num artigo que esta não quer saber das centenas de trabalhadores que já morreram na construção dos estádios para o Mundial do Qatar em 2022. Segundo o Guardian, a queixa da arquitecta deu entrada num tribunal de Nova Iorque na semana passada e tem por base um artigo do crítico de arquitectura, Martin Filler, que já admitiu ter errado nas afirmações que fez.

Zaha Hadid queixa-se de ter sido difamada por Filler num artigo que em nada lhe dizia respeito. Foi na crítica ao livro Why We Build, de Rowan Moore, que Martin Filler recorreu a um episódio que aconteceu com Zaha Hadid em Fevereiro deste ano quando esta numa conferência de imprensa disse nada ter a ver com a situação dos trabalhadores do Qatar.

O Qatar é acusado de admitir empresas de construção que exploram trabalhadores – escravidão, fome, falta de condições de higiene, salários nunca pagos ou em atraso. Ainda no início deste ano, o Guardian publicou um trabalho de investigação que dava conta das condições de trabalho desumanas com estes trabalhadores, na sua maioria imigrantes, expostos longas horas de trabalho ao sol – que terão resultado na morte de cerca de 1200 destes operários nos últimos quatro anos.

Quando questionada sobre as condições precárias dos operários, na sua maioria oriundos da Índia e do Nepal, a arquitecta disse que esse é um problema do Governo e não seu. “Não é meu dever como arquitecta resolver isso. Eu não posso fazer nada a respeito pois não tenho esse poder”, alegou então.

Apesar de o artigo de Martin Filler ser sobre o livro de Rowan Moore, também ele crítico de arquitectura, o advogado de Zaha Hadid diz que Filler se refere demasiadas vezes à arquitecta, descontextualizando as suas palavras.

“Quase todas essas referências são usadas para pôr em causa o sucesso da nossa cliente ou para caracterizar a sua personalidade de difícil. É um ataque pessoal disfarçado de crítica de livro e expôs Hadid ao ridículo e ao desprezo público”, escreveu em comunicado o advogado Oren Warshavsky, também conhecido por defender clientes defraudados por Bernard Madoff. O advogado acusa a revista ainda de atentar contra o bom nome e reputação da arquitecta, que se tornou na primeira mulher a vencer um Pritzker, considerado o Nobel da Arquitectura.

Foi na sequência da investigação do Guardian que a arquitecta foi questionada numa conferência de imprensa em Londres, como responsável pelo projecto de um dos estádios. Zaha Hadid defende agora que a citação referida pelo crítico foi tirada do seu contexto, lembrando que em Fevereiro os trabalhos no estádio desenhado por si ainda nem tinham começado, acrescentando também que não se registaram até agora quaisquer incidentes.

Do lado da New York Review of Books, não houve comentários ao incidente. Zaha Hadid espera ser indemnizada e ainda ver reconhecido aquilo que para si é um erro. Entretanto, o New York Times escreve que Martin Filler admitiu o erro numa carta enviada aos editores da revista, esclarecendo que aquilo que Hadid disse em Fevereiro nada tem a ver com o estádio que desenhou. A explicação onde Filler lamenta o sucedido já foi publicada no site da New York Review of Books e o advogado da arquitecta já fez saber que vai analisar a situação para decidir se avaça ou trava o processo.

Esta não é no entanto a primeira vez que a arquitecta se vê envolvida numa polémica neste género. Zaha Hadid venceu este ano o Design of the Year com o centro cultural Heydar Aliyev Center, no Azerbaijão, mas não sem livrou das críticas e das acusações sobre despejos forçados e trabalho escravo.

Também este ano, a arquitecta viu circular na Internet uma petição lançada por dois prémios Pritzker, Toyo Ito e Fumihiko Maki, contra a construção do Estádio Olímpico de Tóquio projectado por Hadid para acolher os Jogos Olímpicos de 2020, orçamentado em cerca de 2,19 mil milhões de euros. Um projecto demasiado grande e caro, argumenta o texto da petição. 

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