Curdos reclamam controlo da barragem de Mossul, mas jihadistas estão refugiados em áreas sensíveis

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Controlo da barragem de Mossul disputado entre as forças curdas e os jihadistas do EI (foto de arquivo). REUTERS/Stringer/Files

Quando as tropas norte-americanas invadiram o Iraque, em 2003, descreveram a barragem de Mossul, que garante o abastecimento eléctrico do Norte do Iraque, como “a mais perigosa do mundo”. E a descrição parece ajustada ainda hoje, no momento em que as forças peshmerga do Curdistão iraquiano lutam pelo controlo definitivo daquela importante infra-estrutura contra os jihadistas do Estado Islâmico (EI).

Os comandantes curdos garantem que os rebeldes sunitas que se apoderaram da barragem na semana passada foram ontem expulsos, após vários dias de combates e com a ajuda da aviação americana. “A operação demorou mais do que o previsto porque os islamistas colocaram minas na barragem”, referiu o general Karim Fatah, que comanda um dos batalhões peshmerga.

Em Bagdad, fontes ligadas ao Governo, entre as quais o curdo Hoshiyar Zebari, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, congratularam-se com a “vitória estratégica” da recuperação da barragem, e anunciaram que a “próxima etapa” será a reconquista da cidade de Mossul, a segunda maior, com 1,5 milhões de habitantes e ocupada pelo EI.

No entanto, a volatilidade da situação é tal que as declarações de vitória podem ter sido algo prematuras. À Reuters, um funcionário da barragem de Mossul garantia que os jihadistas ainda dominavam alguns “pontos chave” da unidade hidroeléctrica do rio Tigre. “O EI ainda controla a barragem. Estão refugiados nas áreas mais sensíveis, que sabem estar a salvo dos bombardeamentos.”

Por carta, o Presidente Barack Obama notificou o Congresso sobre a ofensiva aérea contra os alvos do EI. “Qualquer acção com a barragem de Mossul é uma grave ameaça para um número significativo de civis, incluindo funcionários americanos da embaixada de Bagdad” (que fica a 400 km), justificou. O número de ataques aéreos junto da barragem ascende a 35, precisou o Pentágono. No total, a Força Aérea americana conduziu 68 bombardeamentos em apoio das forças curdas e iraquianas desde 8 de Agosto.

De regresso ao Vaticano depois de uma visita à Coreia do Sul, o Papa Francisco considerou “legítimas” as tentativas da comunidade internacional para “travar agressões injustas” como as que decorrem no Iraque — mas sublinhou que “não pode ser um único país a decidir o que fazer para travar essa agressão”.

“Reparem que estou a dizer travar e não bombardear”, disse o Papa, que revelou ter pensado em deslocar-se ao Iraque para ajudar a resolver a crise. “Neste momento, penso que não será a melhor coisa a fazer, mas se for preciso, estou disponível”, garantiu Francisco.

Os políticos curdos do Iraque prometeram consolidar os avanços das forças peshmerga contra os jihadistas, no Norte do país, com novos progressos no terreno político em Bagdad. De acordo com Hoshiyar Zebari, o grupo parlamentar curdo, bem como os dirigentes do governo semi-autónomo, estão prontos para negociar para a formação de um novo Governo, conduzido por Haider al-Abadi, o político xiita da ala moderada que foi designado primeiro-ministro.

Os curdos tinham-se retirado do processo político pós-eleitoral em litígio com o anterior primeiro-ministro, Nuri al-Maliki, que insistia em tomar posse para um quarto mandato consecutivo.

Idêntica abertura para as negociações foi manifestada por alguns líderes tribais, religiosos sunitas e dirigentes do Partido Baas de Saddam Hussein. O antigo vice-presidente Tarek al-Hashemi — fugido à justiça após ter sido condenado à morte, em 2012 — disse à Reuters que o Iraque “vive na iminência da guerra civil e da partição”. A única forma de evitar a desintegração, afirmou, é reintegrar o Baas no processo político.     

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