Trabalhadores dos aeroportos preocupados com ébola e sem formação para lidar com doentes

Funcionários dizem não ter orientações para lidar com infectados.TAP alega que formação não é por agora necessária. Direcção-Geral de Saúde que acreditava que aeroportos estavam a dar instruções aos trabalhadores.

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"É importante que os trabalhadores tenham informação sobre os perigos que correm", avisa o sindicato David Clifford/Arquivo

Os trabalhadores dos aeroportos estão preocupados, dizem os seus representantes sindicais. Não têm formação para lidar com passageiros infectados com o vírus do ébola e a Direcção-Geral de Saúde (DGS) garante que não a irá ministrar se não for chamada a fazê-lo. “Não nos compete dar formação a esses trabalhadores. Os aeroportos têm gabinetes e sistemas próprios de saúde para esse efeito. Só o iremos fazer se pedirem a nossa colaboração”, diz a subdirectora-geral de Saúde, Graça Freitas.

A mesma responsável mostra-se surpreendida por estes funcionários não receberem formação quando “existem briefings periódicos da DGS com as estruturas aeroportuárias responsáveis pela sua formação”. Para Graça Freitas, “os últimos dados davam conta de que tinham”. Aliás, o ministro da Saúde Paulo Macedo garantiu quinta-feira, num simulacro no aeródromo municipal de Cascais que visava testar a capacidade de resposta a situações em que fosse detectado um infectado com o vírus, que Portugal está preparado para lidar com este tipo de problemas.

O certo é que o Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava) sublinha a preocupação dos milhares de trabalhadores do sector, especialmente nas áreas de acolhimento de voos provenientes de países mais expostos ao vírus.

O ébola já fez 1145 mortos na África Ocidental em 2127 casos identificados, segundo as mais recentes informações da Organização Mundial de Saúde. O surto da doença surgiu no início de Março na Guiné Conacri. A doença continua a alastrar e esta sexta-feira foi anunciada a morte na Nigéria de uma das enfermeiras que esteve em contacto com a primeira vítima de ébola naquele país africano, um norte-americano proveniente da Libéria.

“Desconhecemos se a bordo desses aviões há realmente precauções que tenham sido tomadas. Os passageiros circulam depois nos aeroportos sem que o pessoal de terra saiba minimamente como lidar com essas situações, nem precaver-se delas”, escreveu o Sitava numa carta dirigida ao presidente do Instituto Nacional de Aviação Civil, citada pela agência Lusa.

No documento, enviado com conhecimento do Ministério da Saúde e da DGS, os trabalhadores alertam ainda para a ausência "quase total" de protecção dos trabalhadores. A DGS garantiu recentemente, contudo, que os funcionários do embarque e desembarque fazem o “controlo” dos passageiros e “accionam o protocolo” se detectarem sinais da doença.

Já a TAP diz que não deu nem prevê por ora vir a dar formação aos seus funcionários e remete para a DGS. “A DGS é que autoridade nesse ponto. São milhares de trabalhadores e não há qualquer necessidade. Nós não voamos de e para os destinos de risco. Existe informação nos aeroportos sobre o vírus ”, refere o porta-voz da companhia, António Monteiro. No terreno, contudo, os trabalhadores dizem que a realidade é outra. Armando Costa, do Sitava, assegura não existirem orientações.

A companhia aérea portuguesa admite vir a dar “acções de formação” através dos seus “serviços de saúde próprios” se a situação se alterar e “justificar”.

“Percebemos que é possível avaliar um sintoma a uma distância curta, mas é importante que os trabalhadores tenham informação sobre os perigos que correm e como agir”, acrescenta o sindicalista.

Para a DGS não parecem existir razões para alarmismo. “Quem está doente não tem condições para voar e quem está sem sintomas não transmite a doença”, aponta Graça Freitas. O PÚBLICO tentou, sem sucesso, contactar o Instituto Nacional de Aviação Civil e a ANA – Aeroportos de Portugal.

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