Adriana quer salvar as memórias visuais de Arouca

Projecto de finalista do mestrado em Fotografia e Cinema Documental resgata e actualiza imagens sobre a agricultura, as festas, e a mineração de volfrâmio.

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A população de Arouca costuma fazer piqueniques na Serra da Freita nas festas da Senhora da Lage DR - Recolha de Adriana Melo e Silva
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A população de Arouca costuma fazer piqueniques na Serra da Freita nas festas da Senhora da Lage DR
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A população de Arouca costuma fazer piqueniques na Serra da Freita nas festas da Senhora da Lage DR - Recolha de Adriana Melo e Silva
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A população de Arouca costuma fazer piqueniques na Serra da Freita nas festas da Senhora da Lage DR
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A fotógrafa continua a recolher imagens entre a população de Arouca DR - Recolha de Adriana Melo e Silva
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A fotógrafa continua a recolher imagens entre a população de Arouca DR - Recolha de Adriana Melo e Silva

Arouca pode bem agradecer a Manuel Valério e aos avós paternos de Adriana Melo e Silva o salvamento de uma parte importante da memória visual do concelho. Se o primeiro fundou no Facebook a página “Contributos para o futuro Arquivo de Arouca”, a segunda ancorou-se nele, e nas memórias da família, para desenvolver, aos 27 anos, um projecto de investigação em fotografia documental que enriquece o trabalho do seu precursor, juntando-lhe imagens contemporâneas, som e vídeo que nos ajudam a perceber como se perdem, ou prolongam no tempo, as memórias deste concelho do interior da Área Metropolitana do Porto.

Quando a avó de Adriana faleceu, ela herdou uma daquelas caixas com fotografias que, abertas, nos garantem que se prolongará no tempo essa memória dos nossos antepassados. “O gosto pelas imagens antigas era já grande”, confessa a finalista do mestrado em Fotografia e Cinema Documental da Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo, filho de um arouquense e de uma açoriana que, acasos da vida dos pais, acabou por calhar de ser portuense: com um pé na serra e outro nas ilhas, onde, apetece-lhe dizer, um dia há-de tentar fazer algo parecido com o seu projecto de Arouca

Memórias de Arouca aprofunda, dá densidade, e reflexão, aos esforços já levados a cabo por Manuel Valério, o conhecido empresário que há duas décadas descobriu e vem preservando fósseis de trilobites que encontrou na sua pedreira em Canelas, onde abriu, há anos, um centro de interpretação daqueles achados. Para além deste gosto pelo património com milhões de anos, Valério tem-se dedicado a recolher e divulgar no facebook fotografia antiga, num trabalho meritório, “muito interessante”, reconhece a jovem fotógrafa.

Com as imagens de casa, e este espólio que Manuel Valério vem mostrando no Facebook, Adriana Melo e Silva decidiu fazer do seu projecto final de curso uma operação de salvaguarda das memórias visuais de um concelho que não tem um Arquivo Fotográfico. A busca levou-a a casas particulares, onde é pouco, por vezes, o cuidado tido com este “património”, mas fê-la também conhecer o filho, homónimo, de um antigo fotógrafo profissional da terra, Adílio Ferreira da Silva, que guarda um espólio interessantíssimo do pai, entre o qual se contam negativos em vidro sobre o quotidiano deste concelho na década de 40.

É material a precisar de atenção, e Adriana fez já alguma coisa por ele, ao digitalizá-lo convenientemente.  “As pessoas guardam as fotografias em casa, e às vezes nem sabem o valor que elas têm para a comunidade”, alerta a jovem que tem dado mais atenção ao material dedicado a três temas: a agricultura, as festas populares e a mineração de Volfrâmio. Para o primeiro, a fotógrafa está a documentar, com imagens contemporâneas, a evolução da actividade; no segundo, interessou-se pelas permanências, recriando, no mesmo local, algumas fotografias como as que mostram os piqueniques da população nas festas da Senhora da Lage, na Serra da Freita.

Já para o terceiro tema, e face à dificuldade de encontrar testemunhos vivos de uma época, a II Guerra, em que, assinala, chegou a haver no concelho uma mina explorada por Aliados e outra nas mãos dos Alemães, Adriana ateve-se a fazer a documentação, fotográfica, do abandono do património mineiro, como se simbolizando a passagem do tempo, e o esquecimento. A tudo isto juntou vídeos com testemunhos orais, forma dominante de fazer passar a memória num território onde é escasso o registo fotográfico, quando comparado com o que acontecia em Lisboa ou no Porto, por exemplo.

O projecto de Adriana Melo vai ser exposto, a partir de 20 de Setembro num antigo cinema transformado em Loja Interactiva de Turismo, na sede do concelho, em formato vídeo. Mais tarde, a partir de 18 de Outubro, as Memórias de Arouca vão até ao edifício Axa, no Porto, onde por estes dias se expõe trabalho de um dos grandes nomes da fotografia Mundial, Henri Cartier-Bresson. Mas até lá, a finalista da ESMAE vai ter de encontrar financiamento para a montagem da mostra porque os seus contactos com empresas do concelho mostraram-se infrutíferos. O que a levou a optar por uma campanha de “crowdfunding” que corre no site www.indiegogo.com.

Em casa de Adriana, o projecto é acompanhado com carinho pelo pai, Alípio Silva, 64 anos, homem que ao contrário das irmãs, que emigraram para o Brasil e para a Alemanha, ficou por Portugal, cuidando do património da família na freguesia de Mansores. Foram as suas idas constantes à casa dos avós que fixaram na finalista da ESMAE a vontade, agora revelada, como numa câmara escura, de regressar ali, para resgatar o que considera que não pode ser esquecido.   


À procura de 2000 mil euros para mostrar as memórias

A campanha de angariação de fundos que Adriana Melo e Silva tem a correr no Indiegogo pretende reunir dois mil euros para divulgação de um conjunto de 250 imagens recolhidas pela fotógrafa. A verba a angariar será aplicada nos materiais necessários para a mostra: impressões de grande dimensão para exibição em salas escuras; acrílicos, luzes e caixilharias; e um livro-catálogo com mais de cem páginas.

Os donativos podem concretizar-se em diferentesvalores, a começar por um euro, que dá direito a um convite para a exposição no Porto. O contributo de cinco euros tem a retribuição adicional de uma das fotos do arquivo impressa em formato postal e sucedem-se outras contrapartidas até ao valor máximo de 750 euros.

Por esse montante, o respectivo mecenas é compensado não só com o convite para a exposição e com cinco postais, como também com acesso online ao projeto, um CD com a sua banda sonora, um DVD documental sobre o processo, uma edição autografada do livro da mostra, um workshop ou sessão fotográfica à escolha e referência expressa na lista de créditos final do projecto como seu produtor executivo.

Adriana Melo e Silva tem também um blogue, provisoriamente chamado Memórias de Arouca, no qual é possível ver e ouvir também alguns dos depoimentos já recolhidos pela fotógrafa para este projecto com o qual termina o mestrado em Fotografia e Cinema Documental da Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto.

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