Campo separatista sofre pesadas baixas e enfrenta violenta ofensiva das forças de Kiev

Situação dramática devido aos combates em Donetsk e Lugansk, enquanto prossegue a “guerra humanitária” entre Kiev e Moscovo.

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Rebelde pró-russo junto a uma cratera provocada por uma bomba perto de Donetsk DIMITAR DILKOFF/AFP

A rebelião separatista no Leste da Ucrânia sofreu um duro golpe esta quinta-feira, com a demissão de vários líderes e do seu principal comandante, Igor “Strelkov” Girkin, e o fogo intenso do Exército nacional sobre as cidades de Donetsk e Lugansk, os dois grandes centros urbanos dominados pelo militantes pró-russos, a provocar baixas significativas nas fileiras rebeldes.

Segundo avança a BBC, Igor Strelkov, cidadão russo que exercia o cargo de ministro da Defesa no governo ad-hoc da auto-proclamada república independentista de Donetsk, apresentou demissão e foi prontamente substituído por Vladimir Kononov. Os rebeldes desmentiram que Strelkov, que se tornou uma figura de “culto” entre os separatistas, e que várias fontes dizem tratar-se de um agente dos serviços secretos da Rússia, tivesse sido ferido com gravidade. No entanto, não foi indicada a razão para a sua saída.

A demissão de Strelkov, foi confirmada pelo ex-primeiro-ministro de Donetsk, Alexander Borodai, que também resignou ao cargo em favor de Alexander Zakharchenko. “Como provavelmente já sabem, Strelkov, tal como eu, abandonou o seu posto no governo”, declarou aos meios russos, sem explicar os motivos para ambas as decisões.

Também o líder dos separatistas de Lugansk, Valeri Bolotov, comunicou à televisão russa que abandonava “provisoriamente” as suas funções devido a “ferimentos”. A cidade tem sido palco de violentos combates nas últimas semanas e as autoridades locais multiplicaram os pedidos de ajuda face a uma situação “crítica”. Falta água, luz, comunicações e abastecimentos de bens essenciais, já que a cidade se encontra fechada.

Numa mensagem video publicada nas redes sociais esta quinta-feira, Bolotov, que já tinha ficado ferido em combate no mês de Maio, explica que “os ferimentos não me permitem focar toda a minha atenção no cargo em prol da população de Lugansk neste difícil período”, que descreve como de “catástrofe humanitária”.

Em Lugansk, 22 civis morreram depois de obuses terem atingido um autocarro, uma loja e vários edifícios de habitação. O exército ucraniano tinha indicado que estava em curso uma ofensiva na parte oriental de Lugansk e deu conta de nove soldados mortos em 24 horas de combates.

Em Donetsk, que contava um milhão de habitantes antes da guerra, os combates chegaram já ao coração da cidade. Intensos tiros de armas pesadas atingiram vários edifícios, incluindo a sede do Ministério Público e a sede da polícia, ocupadas pelos separatistas, e uma universidade. Pelo menos duas pessoas morreram, refere a AFP.

Na região de Donetsk, onde o exército de Kiev trava uma ofensiva contra os rebeldes separatistas, 74 civis morreram nos últimos três dias, segundo a administração regional.

Ajuda a caminho?
Entretanto, as autoridades de Kiev enviaram nesta quinta-feira uma coluna de 75 camiões transportando 800 toneladas de produtos de primeira necessidade destinados às populações civis de Donetsk e Lugansk.

Trata-se da resposta ao envio pela Rússia de uma coluna de 300 camiões carregados com duas mil toneladas de ajuda humanitária para as duas cidades. A coluna está agora parada num descampado perto de Rostov, a cidade russa mais próxima da fronteira junto ao território controlado pelos separatistas, mas o braço de ferro entre Moscovo e Kiev mantém-se sobre a forma como a ajuda vai ser autorizada a entrar na Ucrânia.

O Governo de Kiev, tal como vários responsáveis políticos e militares ocidentais, suspeita que a coluna de veículos brancos que partiu na terça-feira de manhã de uma base militar nos arredores de Moscovo mais não é do que um “cavalo de Tróia” que serviria como cobertura para um intervenção militar russa na Ucrânia. Um cenário classificado como “absurdo” por Moscovo.

Putin na Crimeia
De visita à Crimeia, península ucraniana que foi anexada pela Rússia em Março, o Presidente russo Vladimir Putin disse que a Rússia não devia “separar-se do resto do mundo”, numa altura em que as relações com o Ocidente estão ao mais baixo nível por causa da crise na Ucrânia. Putin qualificou a situação no país vizinho de “caos sangrento” e “conflito fratricida”.

“Temos que, calmamente, com dignidade e eficácia, construir o nosso país, e não separá-lo do resto do mundo”, disse Putin, num tom conciliador. “Temos que nos consolidar e mobilizar, não para nenhuma guerra ou qualquer tipo de confrontação, mas sim para trabalharmos arduamente em nome da Rússia”. O seu objectivo, disse o Presidente russo, é fazer tudo o que estiver ao seu alcance para pôr fim ao conflito sangrento no Leste da Ucrânia.

O número de vítimas no Leste da Ucrânia duplicou em 15 dias e já ultrapassa os dois mil mortos, segundo a ONU.

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