Poroshenko dá luz verde a missão humanitária russa se incluir outros países

Putin anunciou que vai enviar auxílio humanitário para o Leste da Ucrânia, mas Kiev antecipou-se afirmando que a aceitará apenas se for enquadrada numa missão internacional e dirigida apenas a Lugansk, a menos representativa das cidades controladas pelos separatistas.

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Um abrigo subterrâneo em Donetsk, a principal cidade controlada pelos separatistas, que estado a ser bombardeada pelas forças governamentais DIMITAR DILKOFF/AFP

Moscovo vai participar numa missão humanitária sem escolta militar para socorrer a população de Lugansk, uma das cidades-bastiões dos separatistas do Leste da Ucrânia, em cooperação com a Cruz Vermelha Internacional e tem luz verde do Presidente ucraniano, desde que nela participem elementos de outros países, como os Estados Unidos ou da União Europeia.

É uma notícia surpreendente e cheia de contradições, quando se sabe que estão concentrados junto à fronteira com a Ucrânia 45 mil militares russos, e o Presidente ucraniano disse a Barack Obama que o seu país continua a ser bombardeado a partir do lado de lá da fronteira.

O Presidente norte-americano sublinhou que qualquer intervenção em território da Ucrânia sem o consentimento de Kiev seria “inaceitável” e uma violação da lei internacional, segundo um comunicado da Casa Branca. Mas Poroshenko afirmou ter o apoio de Obama para o seu plano de enviar uma missão humanitária internacional para a cidade de Lugansk, sob os auspícios da Cruz Vermelha Internacional, e com a participação da União Europeia, da Rússia e de outros países, após uma conversa telefónica com a Casa Branca.

A Cruz Vermelha Internacional manteve-se silenciosa desde que começaram a ser divulgados estes comunicados, a meio da tarde em Portugal. Alguns media ucranianos dizem que o representante em Kiev desta organização desconhecia que estivesse a ser organizada uma tal missão.

A notícia começou com um telefonema de Vladimir Putin a Durão Barroso, uma conversa que não terá sido muito esclarecedora, a julgar pelo comunicado emitido pela Comissão Europeia. Putin informou Barroso da intenção de Moscovo de enviar “um comboio humanitário para o Leste da Ucrânia”, sem dizer quando nem para onde.

O Presidente russo dizia ter o apoio da Cruz Vermelha Internacional e chamava a atenção “para as consequências catastróficas das operações militares levadas a cabo pelas autoridades de Kiev” no Leste a Ucrânia, para reconquistar as cidades sob controlo dos separatistas pró-russos. Defendia a “necessidade de fornecer urgentemente uma ajuda humanitária na zona de conflito”.

Nesta segunda-feira, os militares ucranianos anunciavam ter cortado as comunicações por estrada entre Lugansk e Donetsk, as duas cidades que, apesar de sitiadas pelo Exército, permanecem controladas pelos separatistas pró-russos.

Barroso, que não mencionou qualquer possibilidade da União Europeia participar numa missão deste tipo recordou a Putin que as potências ocidentais “estão contra acções unilaterais na Ucrânia, sob qualquer pretexto, incluindo o humanitário”. Durão Barroso não o escamoteou ao mencionar a Putin “a sua inquietação com a concentração de tropas russas na fronteira".

NATO desconfia

Ainda nesta segunda-feira, o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, voltou a dizer que “há uma alta probabilidade de uma intervenção militar russa” na Ucrânia.

Segundo o dinamarquês, que repete a filosofia que tem guiado os líderes ocidentais na resposta aos apelos que é urgente ajudar as populações que estão nas cidades controladas pelos secessionistas pró-russos – Lugansk e Donetsk –, tudo não passa de um estratagema de Moscovo e daqueles que recebem apoio do Kremlin. “O que estamos a ver é os russos a desenvolverem uma narrativa e um pretexto para uma operação [militar] sob o pretexto de uma missão humanitária, enquanto assistimos a uma concentração que poderá ser usada para levar a cabo operações militares ilegais na Ucrânia”, afirmou Rasmussen à Reuters.

Além dos 45 mil soldados russos, estão junto à fronteira Leste da Ucrânia 160 tanques, 150 lançadores de mísseis Grad, 190 jactos de combate, e 137 helicópteros, segundo um porta-voz militar ucraniano.

O fornecimento de ajuda humanitária às cidades do Leste da Ucrânia que se declararam independentes como a Crimeia – embora a sua independência não tenha sido reconhecida por Moscovo – tinha sido considerado “inaceitável” por Angela Merkel e Barack Obama, durante uma conversa telefónica transatlântica, e depois “injustificável e ilegal”, quando Obama falou com o primeiro-ministro britânico David Cameron. E quando o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, convidou os EUA a participar numa acção lançada por Moscovo, o secretário de Estado John Kerry, tinha-lhe respondido que a ajuda de emergência às populações sitiadas estava a ser estudada com as autoridades de Kiev.

 O resultado poderá ter sido o anúncio da missão internacional com a participação de Moscovo, feito por Poroshenko após uma conversa telefónica com Obama, embora Durão Barroso pareça ter ficado de fora da combinação. 

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