Obama admite alargar bombardeamentos no Iraque para derrotar jihadistas

Numa longa entrevista ao New York Times, o Presidente americano critica a falta de consenso político dos líderes iraquianos que permitiu o avanço dos islamistas radicais.

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Os EUA “não vão ser a força aérea” de ninguém, avisou Obama Larry Downing /Reuters

Ao segundo dia de raides aéreos da aviação americana contra as posições dos jihadistas do Estado Islâmico (EI) no Norte do Iraque, o Presidente dos EUA, Barack Obama, fez saber que não exclui o alargamento dos bombardeamentos a outras zonas do país onde os islamistas ganham terreno.

Os Estados Unidos, disse Obama numa longa entrevista sobre política externa ao New York Times, estão dispostos a ajudar a travar a ofensiva dos islamistas sunitas, mas os dirigentes políticos iraquianos vão ter que encontrar uma maneira de conseguirem trabalhar juntos no futuro.

É esta a contrapartida. Ou os xiitas (maioria, no poder), os sunitas (minoria que governava o Iraque no tempo de Saddam) e os curdos (que ganharam crescente autonomia nos últimos anos) se entendem, ou então os EUA “não vão ser a força aérea” de ninguém.

Na quinta-feira o Presidente autorizou o exército americano a proceder a ataques “localizados” contra os combatentes do EI no Norte do Iraque, naquela que disse ser uma operação limitada para evitar um “genocídio” de minorias em fuga e para proteger os americanos que trabalham na capital do Curdistão iraquiano, Erbil.

Na entrevista ao New York Times, Obama dá entender que os EUA podem ir mais longe para ajudar o Iraque a derrotar o EI, que já declarou a criação de um califado em partes do Iraque e também da Síria. “Não deixaremos que ninguém crie um califado através da Síria e do Iraque, mas só o poderemos fazer se soubermos que temos parceiros no terreno, capazes de preencher o vazio”, após uma derrota dos islamistas sunitas. Em delcarações aos jornalistas, horas mais tarde, explicou que os primeiros raids tinham destruído equipamento militar do EI mas avisou que "o problema não vai ficar resolvido em apenas algumas semanas". Trata-se de um "projecto a longo prazo".

O Presidente dos EUA elogia as autoridades da região semi-autónoma do Curdistão iraquiano, como sendo “funcionais” e “tolerantes para com as outras seitas e religiões”. Deixando implícita a crítica aos xiitas liderados pelo primeiro-ministro Nouri al-Maliki , Obama diz que “os curdos usaram bem o tempo que lhes foi dado pelo sacrifício das nossas tropas no Iraque”, para criarem um modelo de sociedade que “eu gostaria de ver no resto do país”.

Insistindo na ideia de que os EUA não podem ajudar quem não está disposto a ajudar-se a si mesmo, Obama falou da lição que aprendeu com a Líbia, um país que está hoje mergulhado no caos, depois de ter sido alvo de uma intervenção militar dos europeus e americanos para derrubar um ditador.

“Depois daquele dia em que Muammar Khadafi se foi, em que toda a gente festejou com cartazes a dizer ‘Obrigado América’... foi nesse momento que tinha que ter existido um esforço muito mais agressivo para reconstruir uma sociedade que não tinha quaisquer tradições cívicas… Por isso, é essa a lição que eu aplico sempre que faço a pergunta, ‘Devemos intervir militarmente? Temos uma resposta para o dia seguinte?'”

E no caso do Iraque, Obama ainda não tem uma resposta para o dia seguinte, a não ser a de que, se não houver um consenso social e político no Iraque que acabe com a política do “vencedor/vencido”, assim que a aviação americana regressar para casa, os islamistas do EI voltaram a atacar.

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