Médicos de saúde pública aconselham adiamento de viagens para países afectados pelo ébola

Presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública diz que Portugal é um país de baixo risco e defende que o fundamental é controlar o vírus em África. Já houve um caso suspeito em Portugal que deu negativo. Linha Saúde 24 está preparada para responder a dúvidas.

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Metade dos casos de ébola registados até agora foram fatais SEYLLOU/AFP

Portugal está em alerta e tem um plano de contingência para lidar com eventuais casos de ébola, apesar de não haver situações confirmadas desta doença no país. Quinta-feira à noite surgiu um caso de uma doente que apresentava sintomas suspeitos, mas que, afinal, se revelou negativo para o vírus que está a assustar as autoridades sanitárias em todo o mundo. Foi a subdirectora-geral de Saúde, Graça Freitas, que relatou o caso da doente que “cumpria critérios” para ser observada pelas autoridades de saúde, em entrevista à SIC Notícias ao final desta tarde de sexta-feira. “As suspeitas não se confirmaram”, explicou a médica.

De resto, a Direcção-Geral da Saúde (DGS), em conjunto com outros organismos, já desenvolveu e testou “há muito tempo” um plano “para [outras] doenças biológicas” que vai sendo “actualizado”. Até à data, portanto, “não se verificou nenhum caso da doença em Portugal, importado ou autóctone”, frisava a DGS num comunicado divulgado também nesta sexta-feira, no qual esclarecia que se mantêm as orientações de segurança adiantadas há uma semana.

Foi apenas constituído “um dispositivo de coordenação” para Portugal -  que se mantém em alerta e que, em caso de necessidade, mobilizará e activará recursos “adequados a cada situação”, seguindo as recomendações temporárias ao abrigo do Regulamento Sanitário Internacional.

Sublinhando que as viagens internacionais para os países afectados pelo surto do ébola não estão proibidas, Graça Freitas, que assina o comunicado, recomenda mesmo assim que os cidadãos considerem viajar “apenas em situações essenciais”, por uma questão de precaução.

"Na Europa, Portugal constitui um país de baixo risco, porque não tem muitos imigrantes dos países de risco, como acontece coma a França e o Reino Unido", destaca o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Mário Jorge Santos. “A primeira barreira deve ser feita pelas companhias aéreas, no momento do check-in. Se algum caso suspeito for detectado a bordo de um avião, o comandante tem a obrigação de lançar um alerta para que haja um dispositivo preparado para receber o doente na pista, quando o avião aterra", defendeu Mário Jorge Santos. O médico entende também que, se não houver uma necessidade imperiosa, o melhor é adiar as viagens" para os países afectados.

Graça Freitas já tinha garantido esta semana que, apesar de não haver restrições às viagens de e para países da África Ocidental por causa do ébola, as pessoas são controladas pelo pessoal dos aeroportos e companhias aéreas. As tripulações das companhias aéreas estão treinadas para detectar quaisquer sinais de doença ou de alarme, asseverou.

Lembrando que o vírus não se transmite através do ar, mas sim dos fluídos corporais, Mário Jorge Santos disse ao PÚBLICO que "a melhor forma de combater a doença é controlando-a em África", não só por uma questão de solidariedade, mas porque "esta é também a melhor forma de nos protegermos".

Recordando que a Linha Saúde 24 (808 24 24 24) está preparada para responder, aconselhar e encaminhar quem necessitar de esclarecimentos suplementares ou orientação específica, a DGS acrescenta no comunicado que estão previstas medidas de repatriação dos cidadãos que possam ter estado expostos ao vírus. 

O plano inclui ainda o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), o laboratório de referência em Portugal que está em estado de “prontidão permanente” e tem capacidade para fazer os despistes do vírus do ébola que os hospitais solicitarem, como disse à Lusa o director, Fernando Almeida. As colheitas para analisar a presença, ou não, do vírus do ébola são enviadas para o INSA que, por enquanto, não alterou o seu plano de contingência, tendo-se limitado a aumentar os contactos com a DGS.

Também o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) tem equipas específicas que receberam formação, além de material com um grau de protecção elevado para actuar no socorro e transporte de casos suspeitos até aos hospitais de referência escolhidos para atender estes casos.

Nestes hospitais - o Curry Cabral e o Dona Estefânia, em Lisboa, e o São João, no Porto - não estão previstas, por enquanto, grandes alterações. “O nosso plano estava estabelecido, continua com os mesmos parâmetros para responder a casos suspeitos ou de doença”, diz Carlos Alves, infecciologista e coordenador da Unidade de Prevenção e Controlo de Infecção do Hospital de São João. O hospital portuense tem vindo a  preparar-se para responder a uma eventual procura de casos suspeitos ou de doença desde Março, tendo já comprado  algum material de protecção.

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