Libéria decreta estado de emergência por causa do ébola

Organização Mundial de Saúde encara anúncio de crise de saúde pública internacional. Propagação do vírus na Nigéria, país mais populoso de África, é a principal preocupação.

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A chegada do padre Miguel Pajares a um hospital de Madrid, depois de ter sido repatriado da Libéria Ignacio Gil-ABC/Reuters

O Governo da Libéria decretou um estado de emergência de 90 dias por causa do risco de epidemia de ébola, e mobilizou o Exército para travar o êxodo descontrolado de populações rurais para a capital, Monrovia, com mais de um milhão de habitantes.

Ao lado, na Serra Leoa, onde o estado de emergência já leva uma semana, foi posta em marcha a “Operação Polvo”, cujo objectivo é garantir o isolamento dos doentes com ébola.

O número de casos fatais de ébola já ascende quase a um milhar, desde o início do ano, com mais de 1700 infectados com o vírus. A epidemia concentra-se na Guiné Conacri, Libera e Serra Leoa — é nestes dois últimos países que se encontram cerca de 60% dos doentes — mas novos casos foram identificados noutros países da região. A grande preocupação agora tem a ver com a possível propagação do vírus à Nigéria, o país mais populoso do continente africano e onde já foram confirmadas sete infecções.

As últimas vitimas do vírus foram uma enfermeira da Nigéria, um empresário da Arábia Saudita. Um padre espanhol de 75 anos, que se encontrava em missão na Libéria, onde contraiu o vírus, foi já repatriado para Madrid, juntamente com uma freira que não deverá estar infectada. O padre Miguel Pajares está num estado extremamente debilitado mas os médicos do hospital Carlos III já terão conseguido estabilizá-lo e estancar as hemorragias.

O contágio com ébola é feito através do contacto directo com fluidos e secreções corporais de pessoas doentes — o vírus provoca uma febre hemorrágica que leva à falência dos órgãos.

Até agora, nenhum tratamento ou cura foi cientificamente testada: uma droga experimental e que não foi ainda submetida a ensaios clínicos, foi usada a título excepcional em dois profissionais médicos norte-americanos que foram infectados com o vírus na Libéria. Os pacientes exibiram melhorias no seu estado, mas o recurso à droga tem levantado controvérsia a nível internacional. Vários países, nomeadamente a Nigéria, solicitaram que a terapia inovadora fosse disponibilizada, mas como esclareceu o Centro para o Controlo de doenças dos Estados Unidos, isso não vai acontecer. “O produto ainda está em fase experimental, e o fabricante já disse que só existe uma quantidade muito reduzida, que não pode ser vendida”, lia-se num comunicado daquele organismo.

A Organização Mundial de Saúde reuniu em sessão extraordinária, e deverá decidir esta sexta-feira pela declaração de uma crise de saúde pública e emergência médica internacional.

As medidas de emergência tomadas pela Libéria foram justificadas pela Presidente Ellen Johnson Sirleaf como precauções fundamentais para a “protecção das populações e a sobrevivência do Estado”. “A escala e abrangência da epidemia, bem como a virulência e mortalidade do vírus, excedem a capacidade e a responsabilidade dos diversos ministérios e agências governamentais”, reconheceu.

Durante o prazo estabelecido, as escolas e os serviços públicos que não sejam considerados vitais permaneceram encerrados, e as movimentações serão condicionadas no país, sobretudo nas províncias mais afectadas pela epidemia. Segundo as agências internacionais, muitas famílias estão a esconder doentes, enquanto outros estarão a ser abandonados em estradas, fora das localidades.

“Infelizmente, a ignorância, pobreza e as práticas culturais e religiosas tradicionais continuam a exacerbar a propagação da doença”, lamentou Ellen Johnson Sirleaf.

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