Bombardeamento em Donetsk atinge hospital e área residencial

Pelo menos quatro civis mortos em bombardeamentos entre quarta e quinta-feira. Forças da Ucrânia tentam atingir quartel-general dos separatistas.

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Os repórteres no local dizem que o ataque foi lançado pelas forças de Kiev Sergei Karpukhin/Reuters

A violência dos combates entre as forças do Governo da Ucrânia e os rebeldes separatistas já ultrapassou o cordão que mantinha os habitantes do centro da cidade de Donetsk a salvo de bombardeamentos intensos. Nas últimas horas, um ataque de artilharia supostamente destinado a destruir o quartel-general dos separatistas acabou por atingir um hospital e várias habitações, fazendo pelo menos quatro mortos e seis feridos.

"Houve uma explosão súbita, um projéctil entrou pelas janelas e destruiu todo o equipamento", disse à agência Associated Press (AP) a médica Anna Kravtsova, que trabalha no Hospital Vishnevski, localizado a apenas quatro quilómetros da praça central de Donetsk.

Um dos pacientes que estavam a receber tratamento naquela área do hospital morreu e quatro outras pessoas ficaram feridas, disse o porta-voz do conselho municipal da cidade, Maxim Rovensky.

As forças ucranianas continuam a negar que estejam a usar fogo de artilharia contra áreas residenciais, mas os repórteres da AP Yuras Karmanau e Peter Leonard relatam que "essas alegações têm sido postas em causa perante as crescentes provas em contrário".

Também o correspondente do The New York Times Andrew E. Kramer aponta o dedo às forças do Governo de Kiev: "As explosões, ao que tudo indica resultantes de bombardeamentos lançados a partir de posições governamentais localizadas fora da cidade, atingiram uma clínica e edifícios residenciais numa zona central de Donetsk por volta das 10h [8h em Portugal continental]."

O alvo do ataque das forças ucranianas era o quartel-general dos separatistas em Donetsk, localizado a cerca de 275 metros do hospital e muito perto de uma área residencial. É nesse edifício que o líder militar dos rebeldes, o russo Igor Girkin – também conhecido como Igor "Strelkov" (atirador) – planeia os ataques contra os militares ucranianos.

Esta não foi a primeira vez que o Exército da Ucrânia tentou destruir o quartel-general dos separatistas e acabou por matar civis – na terça-feira da semana passada, um homem que estava a varrer na entrada de um edifício residencial morreu num outro ataque de artilharia, que marcou o início dos bombardeamentos no coração da cidade.

A noite de quarta para quinta-feira foi particularmente violenta, com mais três civis mortos e cinco feridos em bombardeamentos noutras zonas de Donetsk. Esta quinta-feira, um fotógrafo da AFP testemunhou o abate de um caça ucraniano que voava a baixa altitude numa zona controlada pelos rebeldes. O piloto ejectou-se e o aparelho caiu perto de Jdanivka, não muito longe do local onde se despenhou o avião da Malaysia Airlines, abatido a 17 de Julho.

A ofensiva militar ucraniana no Leste do país tem limitado cada vez mais o controlo dos separatistas nas cidades de Donetsk e Lugansk. Os primeiros bombardeamentos com fogo de artilharia começaram na semana passada, e na quarta-feira foram registados os primeiros ataques aéreos.

Entretanto, o líder dos separatistas, Aleksander Borodai – também ele russo, nascido em Moscovo –, anunciou a sua demissão e confirmou a sua substituição por um "natural do Leste da Ucrânia". Alexander Zakharchenko, nascido em Donetsk, terá como missão "reforçar a ala militar" da revolta separatista e afastar a ideia generalizada na União Europeia e nos Estados Unidos de que o conflito foi instigado e está a ser liderado por cidadãos russos.

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