Novo êxodo após entrada de jihadistas na maior cidade cristã do Iraque

Avanço das radicais lança pânico entre as minorias religiosas. ONU diz que há 200 mil yazidis em fuga, alguns dos quais conseguiram chegar à Turquia.

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Yazidis fugidos de Sinjar que conseguiram encontrar refúgio no Curdistão iraquiano Ari Jala/Reuters

Dezenas de milhares de pessoas estão em fuga no Norte do Iraque depois de combatentes do Estado Islâmico (EI) terem tomado na noite passada um punhado de cidades de maioria cristã nas planícies da província de Nínive, o último êxodo provocado pelo avanço dos jihadistas, que não toleram dissidências ou minorias.

“Cem mil cristãos fugiram com nada a não ser a roupa que tinham no corpo, muitos a pé, para tentar chegar ao Curdistão”, denunciou o patriarca caldeu Louis Sako, citado pela AFP, dizendo ter informações de que “as igrejas foram ocupadas, as cruzes levadas” e mais de 1500 manuscritos queimados. “É um desastre humanitário.”

Habitantes na zona, situada entre Mossul e a região autónoma curda, contaram à Reuters que os guerrilheiros entraram durante a noite nas cidades de Tal Kaif, Al-Kwair e Qaraqosh, esta última a maior cidade cristã do Iraque, onde até há pouco tempo viviam cerca de 50 mil pessoas. A estes juntaram-se nas últimas semanas milhares de cristãos fugidos de Mossul, capital de Nínive e segunda maior cidade iraquiana, tomada em Junho pelos jihadistas – no final do mês passado, os que ali restavam receberam ordens para partir, converter-se ou pagar um imposto.

Prevendo o mesmo destino, a população de Qaraqosh não esperou pela chegada dos extremistas. A delegação iraquiana da organização francesa Fraternité, contou através do Facebook que a cidade se esvaziou depois de o comandante dos peshmerga, os paramilitares curdos que controlavam a cidade, terem informado o arcebispo que iam abandonar os seus postos. O mesmo tinha acontecido domingo passado em Sinjar, cidade yazidi (minoria curda, seguidora de um culto pré-islâmico) no noroeste da província de Nínive, que o Estado Islâmico capturou depois de os peshmerga terem ficado sem munições e sido obrigados a retirar.

“O Governo, como as autoridades curdas são incapazes de defender o nosso povo. É preciso que trabalhem em conjunto, com o apoio internacional e equipamento militar moderno” para derrotar os extremistas, afirmou o patriarca, pedindo às Nações Unidas e à União Europeia que vão em auxílio dos que estão em fuga. “Espero que não seja muito tarde para evitar um genocídio”, afirmou Louis Sako.

Os habitantes da planície, entre eles também membros da minoria xiita Shabak, fugiram em direcção ao Curdistão, porto de abrigo de muitos dos deslocados pelo conflito, na mesma altura em que chegavam à fronteira com a Turquia “várias centenas” de yazidis fugidos de Sinjar, revelaram as autoridades de Ancara. Cerca de 200 mil pessoas abandonaram a cidade (mais de dois terços da população de Sinjar) desde domingo e muitos estarão encurralados nas montanhas, sob ameaça da sede e o medo dos jihadistas, que os apelidam de “seguidores do diabo”. O gabinete de coordenação humanitária das Nações Unidas disse ter recebido informações de que alguns milhares foram já resgatados, mas não se sabe para onde ou por quem.

O Estado Islâmico, envolvido também em combates no Líbano e na Síria, anunciou através do Twitter ter conquistado a barragem de Mossul, a maior do Iraque, e mais 15 cidades, entre elas Makhmur, a menos de 60 quilómetros de Erbil, a capital do Curdistão. As forças curdas asseguram que continuam a controlar a barragem, mas testemunhas citadas pela Reuters disseram ter visto as bandeiras negras dos jihadistas hasteadas no local. Alarmados com a rápida progressão dos radicais, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, pediu  uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para debater a situação no Iraque e o Papa Francisco pediu a intervenção do mundo para proteger as populações em fuga.

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