Bolsa de Lisboa acumula uma perda de 6% em três dias, com forte desvalorização dos títulos da banca

Solução encontrada para o BES tem gerado uma fuga elevada de investidores da bolsa nacional.

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Investidores fogem de activos de maior risco e atiram índices bolsistas para quedas elevadas.

A bolsa de Lisboa encerrou esta quinta-feira com uma queda de 2,27%, elevando a perda nas últimas três sessões a mais de 6%, a reflectir o desagrado dos investidores pela solução encontrada para o BES, que o presidente do BCE defendeu, ao afirmar que se afastou um "incidente sistémico”.

Num dia negativo na generalidade dos mercados accionistas europeus, que arrastou os principais índices para perdas até 1,5%, na sequência de vários factores negativos, com destaque para a tensão entre a Europa e a Rússia, a bolsa de Lisboa iniciou a sessão com perdas acima dos 3,5%, com o BCP a desvalorizar mais de 20%.

Ao longo da sessão a pressão vendedora foi diminuindo, e o BCP até conseguiu estar a ganhar 11,38%. No entanto, o fecho voltou a ser no vermelho, com uma queda de 1,25% e com uma liquidez muito superior ao habitual, ao negociar 790 milhões de acções.

A recuperação temporária do BCP aconteceu depois da instituição ter comunicado ao mercado  o reembolso de 1850 milhões de euros da ajuda estatal, uma medida já aguardada, mas que não deixa de ser positiva para o título.

Com este segundo reembolso ficam a restar 700 milhões de euros da ajuda estatal, que ascendeu a três mil milhões de euros.

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) proibiu a venda a descoberto de acções do BCP durante esta quinta-feira, depois de, na sessão de quarta-feira as acções do terem derrapado 15,07%, para 0,0879 euros,  mas essa medida não evitou a pressão sobre o título.

A medida da CMVM visa travar a actuação dos fundos de alto risco, os chamados hedge funds, que apostam na queda dos títulos e ganham dinheiro através da venda a um preço alto e posterior recompra dos títulos a um preço mais baixo.

A queda foi violenta nos restantes dois títulos de banca. O BPI chegou a perder mais de 10%, mas acabou por fechar ligeiramente negativo, a deslizar 0,64%,

Já no Banif, foi mais um dia de massacre, com uma queda de 10% e um movimento de 539 milhões de títulos, muito acima do habitual.

Para além do sector bancário, a PT, que viu esta quinta-feira formalizada a saída do presiente executivo, Henrique Granadeiro, encerrou a perder mais de 5%. Vários títulos do índice, como EDP, Semapa, Impresa encerraram com perdas próximas dos 5%, que no caso da Mota-Engil superam os 7%.

Para além da conjuntura geral, que está a levar os investidores a fugir de activos de risco e a procurar produtos mais seguros, como as obrigações alemãs, que renovaram novos mínimos históricos, a bolsa portuguesa e no sector financeiro em particular ainda há o efeito negativo do BES, que está a gerar uma forte saída de investidores estrangeiros, desiludidos com a incapacidade dos reguladores nacionais para detectarem a gestão fraudulenta num dos maiores bancos privados do país..

A solução encontrada para o BES, que implica que os accionistas sejam chamados a suportar, em primeira linha, as perdas geradas pelo colapso da instituição, gera um clima de receio face ao investimento em títulos bancários.

Em defesa da solução saiu o presidente do  Banco Central Europeu (BCE), Mário Draghi, para quem a medida conseguiu  evitar um “incidente sistémico”, restringindo as perdas essencialmente aos accionistas do banco. Embora assinalando que não podia falar sobre casos individuais de bancos, Draghi defendeu que “as autoridades portuguesas agiram rapidamente e de forma eficaz”.

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