Mercado de trabalho recupera, mas desemprego de longa duração resiste

Durante o último ano desapareceram 137,4 mil desempregados e foram criados 90 mil empregos. Mas o peso daqueles que estão desempregados há mais de um ano continua a bater novos máximos.

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A tendência de recuperação do mercado de trabalho em Portugal acentuou-se durante o segundo trimestre deste ano, com a descida da taxa de desemprego para 13,9%, anunciou nesta terça-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Os números apresentados esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística para o segundo trimestre deste ano vieram confirmar o mercado de trabalho em Portugal está, depois de ter atingido o seu ponto mais negativo no primeiro trimestre de 2013, a acentuar uma tendência de retoma. A taxa de desemprego caiu para 13,9%, o que representa uma melhoria de 1,2 pontos percentuais face aos 15,1% registados os primeiros três meses do ano.

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E se é verdade que os segundos trimestres de cada ano costumam ser tradicionalmente beneficiados pela criação momentânea de postos de trabalho de carácter sazonal, especialmente nos sectores do turismo e da restauração, também é certo que, observando a evolução da taxa de desemprego face ao mesmo período do ano passado (retirando assim os factores sazonais), se continua a notar uma melhoria significativa dos indicadores do mercado de trabalho em Portugal. A taxa de desemprego caiu, em termos homólogos, 2,5 pontos percentuais, de 16,4% para os 13,9% actuais.

Nos últimos doze meses o que ocorreu foi o “desaparecimento” das estatísticas do INE de 137,4 mil desempregados. Face ao primeiro trimestre deste ano, a redução do número de desempregados foi de 59,2 mil pessoas. Há neste momento em Portugal 728,9 mil pessoas que se declaram activas e à procura de um posto de trabalho, mas que não encontram emprego.

Tal como tem vindo a ocorrer desde que a taxa de desemprego começou a descer, nem toda a evolução positiva deste indicador de deve à criação de empregos em Portugal. De acordo com os dados do INE, nos últimos doze meses, criaram-se 90 mil empregos em Portugal.

A diferença entre estes 90 mil empregos criados e a diminuição de 137,4 mil desempregados explica-se pela passagem de parte da população para a inactividade ou à diminuição da população em geral, seja pela deterioração do saldo entre nascimentos e mortes, seja pela deterioração do saldo migratório.

De facto, olhando para a soma da população activa com a população inactiva estimadas pelo INE, chega-se a uma diminuição da população total em Portugal durante o último ano de 62,8 mil pessoas. Sendo que uma parte desse saldo negativo se deve ao aumento da emigração, é por esta via que se explica uma parte importante da diminuição do desemprego.

Ainda assim, nos números agora apresentados pelo INE, é notória a criação de empregos no último ano, principalmente no sector do turismo e ocupados por jovens com uma licenciatura. Durante o ano passado, o peso da emigração como contributo para a diminuição do desemprego era muito mais acentuado.

 
Desemprego crónico
Neste cenário de recuperação a que se assiste no mercado de trabalho português, há no entanto quem se arrisque a permanecer do lado dos perdedores. Entre a população desempregada está a aumentar a percentagem daqueles que já estão nessa situação há mais tempo.

O desemprego de longa duração – que junta todos os que não conseguem encontrar um posto de trabalho há mais de um ano – não está a apresentar uma diminuição semelhante à do desemprego total. No segundo trimestre deste ano estão nessa situação 491 mil pessoas, menos 46 mil do que no mesmo período do ano passado e menos 10 mil do que nos primeiros três meses de 2014.

O peso dos desempregados de longo prazo no total dos desempregados voltou a atingir um novo máximo histórico em Portugal, cifrando-se em 67,4%, uma subida face aos 61,9% do ano passado e aos 63,6% do primeiro trimestre deste ano.

O problema ainda é mais grave para aqueles que estão desempregados há mais de dois anos. No segundo trimestre, estima-se a existência de 320,3 mil pessoas nessa situação. Este número muito pouco ou nada se tem alterado nos últimos tempos. Era de 326,8 mil há um ano e no primeiro trimestre de 2014 até era menor, de 307,1 mil. Com este resultado, a percentagem de pessoas, entre os desempregados, que estão sem emprego há mais de dois anos já é de 43,9%, uma subida significativa face aos 37,7% de há um ano atrás.

Parece assim confirmar-se uma das consequências negativas previstas com a escalada do desemprego registada até ao ano passado: a queda de uma parte significativa da população na armadilha do desemprego de longa duração. Estas pessoas, geralmente com qualificações mais baixas, encontram dificuldades em aproveitar os sintomas de retoma da actividade económica e de criação de postos de trabalho, uma vez que as suas características não se adaptam ao tipo de actividades que está agora a conseguir sair primeiro da crise. Os desempregados de longa duração trabalhavam antes em sectores e funções que se tornaram inviáveis com a crise.

Esta tendência para que o desemprego se torne um problema crónico é também visível nos indicadores relativos ao desemprego estrutural, que registou uma subida acentuada em Portugal nos últimos anos, e que mostra como existe um desencontro entre os postos de trabalho que a estrutura produtiva portuguesa consegue criar as necessidades de emprego da sua população.

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