Crédit Agricole admite processar antiga equipa de gestão do BES

Colapso do BES teve impacto negativo de 708 milhões de euros nas contas trimestrais do accionista francês do banco.

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Jean-Paul Chifflet, o CEO do banco francês REUTERS/Gonzalo Fuentes

O colapso financeiro do Banco Espírito Santo (BES), salvo da falência neste fim-de-semana, teve um impacto negativo de 708 milhões de euros nas contas trimestrais do accionista Crédit Agricole, anunciou nesta terça-feira o CEO do banco francês.

Jean-Paul Chifflet avançou que o grupo se sente “enganado por uma família com quem tentou criar uma verdadeira parceria" e anunciou que estão a ser estudadas eventuais medidas legais contra a antiga equipa de gestão do BES.

O Crédit Agricole detinha 14,6% do capital do BES e não fica claro se o terceiro maior banco francês já assumiu a totalidade das perdas, como acaba de fazer do Bradesco, ou se ainda o vai fazer nas contas do terceiro trimestre.

O Bradesco anunciou esta segunda-feira uma perda de 117 milhões de euros, decorrentes da participação de 3,9% que detém no banco português: O maior banco brasileiro adianta que provisionou a 100% a participação no até agora parceiro histórico português.  

Apesar das perdas já assumidas, as acções do banco francês seguem a subir mais de 5%. Já na sessão de segunda-feira, a primeira após o anúncio da solução desenhada pelo Banco de Portugal, que visou essencialmente proteger os depositantes, as acções do Crédit Agricole tinham fechado com uma valorização acima de 2%.

Por causa do efeito BES, o lucro trimestral do banco fixou-se em 119 milhões de euros, menos 84,9% do que entre Abril e Junho de 2013.

Nos primeiros seis meses, o banco registou um lucro de 1085 milhões de euros, menos 19,2% do que no mesmo período de 2013.

Em comunicado, e apesar das perdas geradas pela crise no BES, o Crédit Agricole diz estar a avançar "conforme a trajectória fixada no anúncio do plano de médio prazo em Março, apoiando-se na solidez financeira e mantendo os esforços de redução dos custos".

De referir que a solução encontrada pelo supervisor nacional para evitar a derrocada total do BES passou pela criação de um “banco bom”, denominado de Novo Banco, que foi capitalizado em 4,9 mil milhões de euros e assumiu as responsabilidades de retalho do BES, ou seja, depósitos, empréstimos e outros produtos financeiros subscritos por particulares e empresas.

Foi ainda criado um “banco mau”, que mantém a denominação de BES e que agrega todas os activos tóxicos ou problemáticos. Os accionistas, incluindo o Crédit Agricole, passam a ser detentores apenas do “banco mau”, e serão ressarcidos na medida em que a venda de activos e recuperação de créditos o permitir.

As acções do BES continuam suspensas, por determinação da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, e é pouco provável que regressem à negociação nos próximos meses. E não está afastada a exclusão definitiva da bolsa.

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