GES desenvolveu esquema de financiamento fraudulento, diz governador do BdP

O supervisor bancário referiu que "a ponta do problema" foi identificada em Setembro de 2013, tendo o Banco de Portugal iniciado "uma política de isolamento dos riscos" relativamente às restantes empresas do GES.

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Carlos Costa, governador do Banco de Portugal Miguel Madeira

O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, afirmou no domingo à noite que o Grupo Espírito Santo (GES) "desenvolveu um esquema de financiamento fraudulento entre as empresas do grupo".

Carlos Costa, que falava na apresentação da solução para o Banco Espírito Santo (BES), num encontro com jornalistas sem direito a perguntas, deu nota de desenvolvimentos do BES ao longo do último ano. "O Grupo Espírito Santo, através das entidades não financeiras não sujeitas a supervisão do Banco de Portugal, desenvolveu um esquema de financiamento fraudulento entre as empresas do grupo", explicou.

Carlos Costa assinalou que "a experiência internacional evidencia que esquemas deste tipo são muito difíceis de detectar antes de entrarem em ruptura, em especial quando a actividade é desenvolvida em várias jurisdições".

O Banco de Portugal conseguiu identificar "uma ponta do problema porque realizou uma acção de inspecção que foi além do perímetro normal de supervisão, envolvendo uma auditoria às empresas não financeiras que constituem os principais clientes dos bancos".

O supervisor bancário referiu que "a ponta do problema" foi identificada em Setembro de 2013, tendo o Banco de Portugal iniciado "uma política de isolamento dos riscos" relativamente às restantes empresas do GES. "Esta política foi progressivamente reforçada ao longo do último ano e foi no quadro de aperto do cerco que as empresas do GES começaram a entrar em incumprimento", reforçou Carlos Costa.

Durante a apresentação do plano de resolução do BES, o governador salientou que o agravamento de resultados da instituição "face ao que era previsível cerca de duas semanas antes é resultado da prática de um conjunto de actos de gestão - anteriores à nomeação dos novos membros da Comissão Executiva - gravemente prejudiciais ao interesse do BES e em clara violação das determinações emitidas pelo banco de Portugal". Destacou que estes actos de gestão tiveram um impacto negativo de cerca de 1.500 milhões de euros nos resultados do primeiro semestre.
"Quero salientar que os actos em causa não foram trazidos ao conhecimento do Banco de Portugal por qualquer dos titulares dos órgãos de gestão ou fiscalização do BES à data da sua ocorrência", garantiu.

O Banco de Portugal anunciou no domingo à noite um plano de capitalização do BES de 4.900 milhões de euros e a separação dos activos tóxicos ('bad bank') dos restantes que ficam numa nova instituição, o Novo Banco.

O capital é injectado no BES através do Fundo de Resolução bancário. No entanto, como este fundo foi criado há pouco tempo e só tem 380 milhões de euros, a solução encontrada passa por ir buscar o valor restante ao dinheiro da 'troika' destinado ao sector financeiro, em que ainda estão disponíveis 6,4 mil milhões de euros.

Assim, estima-se que virá do dinheiro da 'troika' entre 4.400 a 4.500 milhões de euros, através de um empréstimo ao fundo de resolução, existindo também uma contribuição extraordinária dos outros bancos que operam em Portugal. Esta ainda está a ser negociada e poderá ascender a cerca de 100 milhões de euros.

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