Netanyahu: destruição dos túneis é apenas a primeira fase da desmilitarização de Gaza

Governo de Telavive mobiliza mais 16 mil reservistas e reforça o seu arsenal. Na semana passada, os EUA venderam morteiros e granadas ao exército israelita.

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Israel reforçou o arsenal e o número de homens JACK GUEZ/AFP

As forças militares israelitas anunciaram ontem que já destruíram entre 70 a 80% dos túneis do Hamas que ligam a Faixa de Gaza a território controlado por Israel. Porém, o primeiro-ministro Benjamim Netanyahu disse que o seu objectivo é a desmilitarização da Faixa de Gaza e que a destruição dos túneis é apenas a primeira fase dessa operação.

À entrada de uma reunião ministerial, Netanyahu deixou claro que não está interessado na negociação da paz enquanto o seu objectivo não for alcançado e respondeu à pergunta “porque continuam os combates mesmo quando estão em vigor tréguas humanitárias?”

“Com ou sem trégua”, a destruição dos túneis continua, disse. “Estamos determinados a completar esta missão. Não aceitaremos qualquer proposta que nos impeça de terminar esse trabalho. [A destruição dos túneis] é a primeira etapa na desmilitarização da Faixa de Gaza.”

Com a intensificação dos combates, Israel decidiu convocar mais 16 mil militares na reserva, contando agora com 86 mil homens. 

Além de um reforço de homens, o Governo israelita fez, na última semana, um reforço do seu arsenal bélico com uma avultada compra de munições aos Estados Unidos. Segundo a estação de televisão americana ABC, o Departamento de Defesa vendeu morteiros e munições para lança-granadas ao exército israelita. Esse material estava em território israelita e fazia parte de uma reserva que os EUA ali mantêm com o nome Reserva de Munições de Guerra-Israel (WRSA-I, na sigla em inglês). 

Trata-se de uma reserva que existe desde a década de 1990 e cuja utilização, segundo as fontes da ABC, exige a aprovação do Presidente — foi o que aconteceu em 2006, quando o Presidente George W. Bush teve de aprovar a venda a Israel de armamento para o conflito entre este país e o Hezbollah libanês. Porém, esta nova venda — especificou o almirante John Kirby — não teve de ser aprovada pela Casa Branca, uma vez que o material vendido estava classificado como “excedentário”. O almirante disse ainda que o pedido israelita para esta compra foi feito no dia 20 de Julho sem carácter de urgência.

Na origem desta nova chamada de reservistas esteve, segundo um porta-voz das forças israelitas, a necessidade de as tropas “terem espaço para respirar” uma vez que estão no terreno há três semanas.

O mesmo porta-voz, Mark Regev, comentou o ataque contra uma escola gerida pelas Nações Unidas em Jabaliya, onde morreram 19 pessoas e cem ficaram feridas. Caso se venha a confirmar a responsabilidade israelita no ataque, será apresentado um pedido de desculpas. “A nossa política é não matar civis.”

O ataque à escola foi na quarta-feira, mas só esta quinta os Estados Unidos reagiram, com o Governo de Washington a fazer a crítica mais dura até ao momento a Israel. Um comunicado divulgado pela Casa Branca diz que o bombardeamento da escola é “totalmente inaceitável e totalmente indefensável”. O texto considera que o preço que os civis estão a pagar neste conflito é “demasiado alto”.

O comunicado da Casa Branca explica que o Governo americano esteve à espera de provas seguras sobre a origem do ataque à escola — na semana anterior, outra escola da ONU foi atingida.

“O secretário-geral da ONU indicou que todas as provas demonstram que a causa foi a artilharia israelita. Não temos elementos que contradigam essa informação. Por essa razão, continuamos a pedir aos responsáveis israelitas que estejam à altura das exigências que eles traçaram para a protecção dos civis inocentes.”

Neste conflito, que começou a 8 de Julho, já morreram cerca de 1300 palestinianos, na maior parte dos casos civis. Mais de 200 serão crianças, segundo a UNICEF. Do lado de Israel contabilizam-se 58 baixas, 56 das quais soldados.

Na escola bombardeada estavam cerca de 3500 dos mais de 450 mil palestinianos deslocados devido a este conflito — 220 mil deles procuraram refúgio em instalações geridas pela ONU. Estão, como todos os palestinianos de Gaza, “à beira do precipício”, como disse esta quinta-feira ao Conselho de Segurança da ONU o director da missão das Nações Unidas de ajuda aos palestinianos da Faixa de Gaza, Pierre Krähenbühl.

O responsável, que falou aos membros do Conselho por vídeo-conferência, apelou a este organismo para que “enfrente esta situação extrema” e “tome medidas” que levem a um “cessar-fogo imediato e incondicional”.     

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