Situações graves no Garcia de Orta denunciadas em carta assinada por 42 directores de serviço

Documento foi enviado para várias entidades, como o Ministério da Saúde e a Ordem dos Médicos. São referidas situações de adiamento de cirurgias e consultas por falta de profissionais e também casos de equipamentos ultrapassados. Hospital fala em "alarmismo desnecessário".

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A carta refere tanto a falta de recursos humanos como a existência de equipamentos obsoletos Fábio Teixeira

Mais de 40 directores de serviço do Hospital Garcia de Orta, em Almada, subscreveram um documento que revela situações graves na instituição, como o adiamento de cirurgias, consultas e exames por falta de profissionais e equipamentos ultrapassados. Uma situação que o conselho de administração da unidade diz não corresponder à realidade.

O documento, a que a agência Lusa teve acesso, é subscrito por 42 directores, que representam a Comissão Médica do Hospital Garcia de Orta, e foi enviado para o Ministério da Saúde, a Ordem dos Médicos, grupos parlamentares da Assembleia da República, entre outras entidades.

Um dos subscritores do documento, que não quis ser identificado, revelou as suas apreensões, considerando que a qualidade do serviço está ameaçada. Este médico, e director de serviço, adiantou que a falta de pessoal já levou à paralisação de blocos operatórios, nomeadamente por carência de especialistas.

O médico lamentou que o Hospital Garcia de Orta, que atende toda a região do sul de Portugal, não seja tratado da mesma forma do que outros hospitais em Lisboa, reconhecendo que a instituição não tem a mesma força do que o Hospital de São João, no Porto, cujas reivindicações - algumas das quais comuns aos dois hospitais - foram cumpridas após ameaça de demissão dos directores de serviço. O clínico disse que, para já, não está decidida uma demissão em bloco, mas garante que estão a ser ponderadas medidas mais duras.

Porém, o conselho de administração do Hospital Garcia de Orta, em comunicado, garante que os problemas referidos “não correspondem à realidade” da unidade, acrescentando que causam um “alarmismo desnecessário”. Sobre os equipamentos obsoletos, o hospital reconhece que “devido à limitação de recursos públicos” não tem conseguido fazer tudo “ao nível da renovação e manutenção das infra-estruturas e do parque tecnológico”, mas assegura que está a procurar soluções com a tutela, tando para os recursos materiais como humanos.

“O Hospital Garcia de Orta, mercê de todo o esforço dos profissionais, fez um grande esforço nos últimos anos para melhorar a eficiência e a qualidade. O sistema de qualidade foi reconhecido internacionalmente e do ponto de vista da eficiência passou de uma situação deficitária, para uma situação de superavit. Com a ajuda do Ministério da Saúde foi já possível amortizar a maior parte da sua dívida acumulada e encurtar os prazos de pagamento”, lê-se na nota enviada ao PÚBLICO.

No documento que seguiu para Paulo Macedo, os médicos referem que "a saída de muitos médicos e enfermeiros do hospital, o impedimento da acção gestionária do Conselho de Administração e das estruturas intermédias de gestão do hospital, por via da centralização administrativa, no que concerne a políticas de recursos humanos e compras, afectará gravemente a prossecução da missão do Hospital Garcia de Orta e da sua actividade assistencial".

"Não nos assiste outro objectivo se não o de chamar a atenção aos órgãos da tutela, para a degradação, em termos de recursos humanos, que esta unidade hospitalar, mercê de causas internas e externas, tem vindo a sofrer, na esperança de que da análise do mesmo resultem recomendações que possam contribuir, para a melhoria da equidade e acesso a cuidados de saúde com qualidade no nosso hospital em particular e na Península de Setúbal, em geral", prossegue a Comissão.

Outra preocupação destes chefes de serviço - entre os quais a ex-ministra da Saúde Ana Jorge - prende-se com o estado dos equipamentos médicos, "em muitos casos completamente obsolescentes e com necessidade de substituição ou modernização urgente". "Existem casos gritantes, como o da pediatria médica, com incubadoras, ventiladores mecânicos e monitores com 20 anos de uso, que pese embora ainda funcionantes, têm taxas de operacionalidade que comprometem a qualidade dos cuidados prestados", refere a comissão no documento.

Também nos cuidados intensivos de adultos há dificuldades, com "camas de 20 anos de uso, completamente inadequadas às necessidades atuais daquele tipo de doentes em termos de posicionamento ideal, não só pondo em causa a qualidade de assistência prestada como condicionando igualmente um elevado índice de lesões músculo-esqueléticas dos seus profissionais de enfermagem e assistentes operacionais". com Lusa

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